quarta-feira, 19 de agosto de 2009

NOTICIA DO 12º ENCONTRO INTERCLESIAL DAS CEBS

Porto Velho parou neste sábado, 25, para assistir à caminhada de 3 km que marcou o encerramento do 12º Encontro Intereclesial das Comunidades de Base. Uma multidão de 10 mil pessoas tomou conta das ruas da capital de Rondônia veja abaixo a carta final do encontro.

Carta Final do 12º Intereclesial às Comunidade
“Bem-aventurados os pobres em espírito, porque deles é o Reino do Céu; ... Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça, porque serão saciados...” (Mt 5, 3.6)

1. Nós, participantes do XII Intereclesial das CEBs, daqui das margens do Rio Madeira, no coração da Amazônia, saudamos com afeto as irmãs e irmãos de todos os cantos do Brasil e dos demais países do continente, que sonham conosco com novos céus e nova terra, num jeito novo de ser igreja, de atuar em sociedade e de cuidar respeitosa e amorosamente de toda a criação!
2. Fomos convocados de 21 a 25 de julho de 2009, pelo Espírito e pela Igreja irmã de Porto Velho/RO, para nos debruçar sobre o tema que nos guiou por toda a preparação do Intereclesial em nossas comunidades e regionais: “CEBs: Ecologia e Missão – Do ventre da terra, o grito que vem da Amazônia”.
Acolhendo as delegações e celebrando os povos da Amazônia
3. Encheu-nos de entusiasmo ver chegando, depois de dois, três e até cinco dias de viagem os delegados, em sua maioria de ônibus fretados, ou ainda em barcos e aviões. Em muitos ônibus, vieram acompanhados de seus bispos e encontraram, ao longo do caminho, acolhida festiva e refrigério em paradas nas dioceses de Rondonópolis, Cuiabá e Cáceres no Mato Grosso, Jataí em Goiás, Uberlândia em Minas Gerais e, entrando em Rondônia, nas comunidades de Vilhena, Pimenta Bueno, Cacoal, Presidente Médici, Ji-Paraná, Ouro Preto e Jaru. Apresentamos carinhoso agradecimento pela fraterna e generosa acolhida de todas as delegações pelas famílias, comunidades e paróquias de Porto Velho, o infatigável trabalho e dedicação do Secretariado e das equipes de serviço, em que se destacaram tantos jovens.
4. Somos 3.010 delegados, aos quais se somam convidados, equipes de serviço, imprensa e famílias que acolhem os participantes, ultrapassando cinco mil pessoas envolvidas neste Intereclesial. Dos delegados de quase todas as 272 dioceses do Brasil, 2.174 são leigos, sendo 1.234 mulheres e 940 homens; 197 religiosas, 41 religiosos irmãos, 331 presbíteros e 56 bispos, dentre os quais um da Igreja Episcopal Anglicana do Brasil, além de pastores, pastoras e fiéis dessa Igreja, da Igreja Metodista, da Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil e da Igreja Unida de Cristo do Japão. O caráter pluriétnico, pluricultural e plurilinguístico de nossa Assembléia encontra-se espelhado no rosto das 38 nações indígenas aqui presentes e no de irmãos e irmãs de nove países da América Latina e do Caribe, de cinco da Europa, de um da África, de outro da Ásia e da América do Norte. Queremos ressaltar a presença marcante da juventude de todo o Brasil por meio de suas várias organizações.
5. “Sejam benvindos/as nesta terra de muitos rios, igarapés e de muitas matas, onde está a Arquidiocese de Porto Velho, que se faz hoje a Casa das Comunidades Eclesiais de Base”. Assim, fomos recebidos, na celebração de abertura pela equipe da celebração e por Dom Moacyr Grechi, com muita música e canto, ao cair da noite, ao lado dos trilhos da Estrada de Ferro Madeira-Mamoré que lembra para os trabalhadores, que a construíram e para os indígenas e migrantes nordestinos, o sofrido ciclo da borracha na Amazônia. Foram evocadas ali e, seguidamente nos dias seguintes, as palavras sábias do provérbio africano: “Gente simples, fazendo coisas pequenas, em lugares pouco importantes,consegue mudanças extraordinárias”.
6. Pelas mãos de representantes dos povos indígenas, dos quilombolas, seringueiros, ribeirinhos, posseiros e de migrantes do campo e da cidade foram plantadas ao lado do altar, três grandes tochas. Nelas, foram acesas milhares de velas dos participantes, cujas luzes se espalharam pelos degraus da esplanada, enquanto ouvíamos o canto do Cristo dos Seringais:
“Na densa floresta vai um caminheiroCristo seringueiro a seringa a cortar... “,Os versos eram entrecortados pelo refrão:“E vem a esperança que surja a bonança,Não seja explorado o suor na balança”.
“E vem a esperança que surja a mudançaE o homem refaça com Deus a aliança”.Ouvindo os gritos das comunidades da Amazônia e comungando com seus sonhos
7. Com o apito da sirene da Madeira-Mamoré, o trem das CEBs retomou sua caminhada, reunindo-se no dia seguinte, na grande plenária do PORTO, aclamado pela Assembléia, “PORTO DOM HELDER CAMARA”, pelo centenário do seu nascimento (1909-2009) e em resgate de sua profética atuação. Iniciamos esse primeiro dia, dedicado ao VER, partindo do grito profético da terra e dos povos da Amazônia, símbolos da humanidade, na sua rica diversidade, deixando-nos guiar na celebração pelo som dos maracás, tambores e flautas e pela dança de louvor a Deus de nossos irmãos e irmãs indígenas. Dali, partimos para os locais dos mini-plenários de 250 participantes, nas paróquias e escolas. Eles levavam os nomes de doze RIOS da bacia amazônica: Madeira, Juruá, Purus, Oiapoque, Guamá, Tocantins, Tapajós, Itacaiunas, Guaporé, Gurupi, Araguaia e Jari
8. Divididos nos Rios em 12 CANOAS, com duas dezenas de participantes cada uma, partilhamos as experiências, gritos e lutas das comunidades em relação à nossa Casa comum, a partir do bioma amazônico e dos outros biomas do Brasil (cerrado, caatinga, pantanal, pampas, mata atlântica e manguezais da zona costeira), da América Latina e do Caribe. Vimos nossa Casa ameaçada pelo desmatamento, com o avanço da pecuária, das plantações de soja, cana, eucalipto e outras monoculturas, sobre áreas de florestas; pela ação predatória de madeireiras, pelas queimadas, poluição e envenenamento das águas, peixes e humanos pelo mercúrio dos garimpos, pelos rejeitos das mineradoras e pelo lixo nas cidades. Encontra-se ameaçada também pelo crescente tráfico de drogas, de mulheres e crianças e pelo extermínio de jovens provocado pela violência urbana.
9. Somamos nosso grito ao das populações locais, para que a Amazônia não seja tratada como colônia, de onde se retiram suas riquezas e amazonidades, em favor de interesses alheios, mas que seja vista em pé de igualdade, no concerto das grandes regiões irmãs, com sua contribuição específica em favor da vida dos povos, em especial de seus 23 milhões de habitantes, para que tenham o suficiente para viver com dignidade.
10. Fazemos um apelo para que os governantes sejam sensíveis ao grito que brota do ventre da Terra e, pautados por uma ética do cuidado, adotem uma política de contenção de projetos que agridem a Amazônia e seus povos da floresta, quilombolas, ribeirinhos, migrantes do campo e da cidade, numa perspectiva que efetivamente inclua os amazônidas, como colaboradores verdadeiros na definição dos rumos da Amazônia.
11. Tomamos consciência também de nossas responsabilidades em relação ao reto uso da água, da terra, do solo urbano e à superação do consumismo, respondendo ao apelo, para que todos vivamos do necessário, para que ninguém passe necessidade.
12. Constatamos, com alegria, a multiplicação de iniciativas em favor do meio ambiente, como a de humildes catadores de material reciclável, no meio urbano, tornando-se profetas da ecologia e as de economia solidária, agricultura orgânica e ecológica. Saudamos os muitos sinais de uma “Terra sem males”, fazendo-nos crescer na esperança de que “outro mundo é possível, necessário e urgente”.
13. De tarde, realizamos a Caminhada dos Mártires, em direção ao local onde o rio Madeira foi desviado e em cujo leito seco, ao som dos estampidos das rochas dinamitadas, está sendo concretada a barragem da hidrelétrica. Celebrou-se ali Ato Penitencial por todas as agressões contra a natureza e a vida humana. Defronte às pedreiras que acolhiam as águas das cachoeiras de Santo Antônio, agora totalmente secas, ao lado da primeira capela construída na região, foram proclamadas as Bem-aventuranças evangélicas (Mt 5, 1-12), sinal da teimosa esperança dos pequenos, os preferidos de Deus.
14. No segundo dia, prosseguimos com o VER, com uma pincelada sobre a conjuntura atual na esfera sócio-política e econômica, apresentada por Pedro Ribeiro de Oliveira; na perspectiva das mulheres, por Julieta Amaral da Costa e do ponto de vista ecológico, por Leonardo Boff. Atendendo ao convite de Jesus: “Vinde e vede” (Jo, 1, 39), após a pergunta dos discípulos, “Mestre, onde moras?” (Jo 1, 38), partimos em grupos, em visita às muitas realidades locais: populações indígenas, comunidades afro-descendentes, ribeirinhas, extrativistas, grupos vivendo em assentamentos rurais ou em áreas de ocupação urbana; bairros da periferia; hospitais, prisões, casas de recuperação de pessoas com dependência química e ainda a trabalhos com menores ou pessoas com deficiência. O retorno foi rico na partilha de experiências, nas quais descobrimos sinais de vida nova. Reiteramos que os projetos dos grandes, principalmente as barragens das usinas hidrelétricas, as usinas nucleares geradoras de lixo atômico que põe em risco a população local, são projetos do capital transnacional que não favorecem os pequenos. Apoiados na sabedoria milenar dos povos indígenas, nos sentimos animados a repetir com eles: “Nunca deixaremos de ser o que somos”. Nós, como CEBs no meio dos simples e pequenos, reafirmamos nossa teimosa opção pelos pobres e pelos jovens, proclamada há trinta anos em Puebla, resistindo e lutando para superar nossas dificuldades, sustentados pela fé no Deus que se revelou a nós como Trindade, a melhor comunidade.
15. No terceiro dia, as celebrações da manhã aconteceram nos rios, resgatando memórias da espiritualidade dos povos da região e das experiências colhidas no caminho missionário percorrido no dia anterior, nas visitas às muitas realidades eclesiais e sociais de Rondônia. A oração foi alentada pela promessa do Êxodo: “Decidi vos libertar... vos farei subir dessa terra para uma terra fértil e espaçosa, terra, onde corre leite e mel” (Ex. 3, 8). Em cada canoa, os relatos iam revelando uma igreja preocupada com a justiça social e a defesa da vida nos testemunhos de gente simples em todos aqueles lugares visitados. Esses relatos aqueceram nosso coração e nos desafiaram a perseverar na caminhada das CEBs.
16. À tarde, fomos tocados por vários testemunhos. Em primeiro lugar, pela sentida oração dos Xerentes do Tocantins que celebraram seu ritual pelos mortos, homenageando o amigo e missionário, Pe. Gunter Kroemer. Dom José Maria Pires, arcebispo emérito da Paraíba, retomou em sua história a trajetória dos negros no Brasil, suas dores, resistências e esperanças de um mundo melhor, nos seus Quilombos da liberdade. Marina Silva, senadora pelo Acre e ex-ministra do Meio Ambiente, contou sua caminhada de menina analfabeta do seringal para a cidade de Rio Branco e de lá para São Paulo, mas principalmente sua incessante busca, a partir da fé herdada de sua avó, alimentada pela experiência das CEBs, da leitura da Palavra de Deus e pelo exemplo de Chico Mendes, de bem viver e de colocar-se publicamente a serviço, em favor do povo amazônida. Por fim, depois da apresentação de Dom Tomás Balduíno, em que ressaltou o papel de Dom Pedro Casaldáliga da Prelazia de São Félix do Araguaia na fundação, junto com outros, do CIMI, da CPT e de Pastorais Sociais, acompanhamos pelo vídeo seu testemunho e nos emocionamos com suas palavras de esperança e confiança em Jesus e na utopia do seu Reinado.
17. Neste dia, ocorreu também o encontro da Pastoral da Juventude de todo o Brasil e outro também muito significativo entre bispos, assessores e Ampliada Nacional das CEBs. Momento fecundo do estreitamento de laços e abertura a novos passos em nossa caminhada, em que foi expressa a alegria e alento trazidos pela presença significativa de tantos bispos. Desse encontro, os bispos presentes resolveram enviar sua palavra às comunidades:Palavras dos Bispos às CEBs
18. Os 56 bispos participantes do Intereclesial, reunidos na sexta-feira à noite com os assessores e os membros da Ampliada Nacional das CEBs, avaliaram muito positivamente o Intereclesial, destacando especialmente a seriedade e o empenho dos participantes no debate da temática do encontro, a espiritualidade expressa nas bonitas celebrações diárias nos “rios”, o clima sereno e fraterno e o grande envolvimento das comunidades das dioceses do regional Noroeste da CNBB na organização e realização do encontro.
A presença de 331 padres que participaram do Intereclesial levou os bispos a exprimirem o desejo de que, neste ano sacerdotal, todos os padres do Brasil renovem o compromisso de acompanhar as CEBs, empenhadas em testemunhar os valores do Reino, como discípulas e missionárias.Constatando que, a partir da Conferência de Aparecida, as CEBs ganharam reconhecimento e novo alento em todo o continente, os bispos tiveram também palavras de apoio e incentivo para a continuação da caminhada das comunidades no Brasil, reforçadas pelo presidente da CNBB, Dom Geraldo Lyrio Rocha.Diante da agressão continuada da Amazônia, juntamente com todos os participantes do encontro, manifestaram sua preocupação com a construção da barragem de Santo Antônio e Jirau no Rio Madeira, os projetos de outras barragens no Xingu, Tapajós, Araguaia e noutros rios e a continuada devastação da floresta pelo avanço da pecuária, das plantações de soja e cana, e da extração ilegal de madeira.
Nas diferenças, o mesmo Deus que nos convoca para a Justiça e a Paz
19. Na manhã do último dia, fomos guiados pelo texto do Apocalipse: “O anjo mostrou para mim, um rio de água viva... O rio brotava do trono de Deus e do cordeiro...; de cada lado do rio estão plantadas árvores da vida... suas folhas servem para curar as nações” (Ap 22, 1-2). Bebemos no manancial da fé que nos une a todos e todas, na única família humana, como filhos e filhas da mesma Mãe-Terra, a Pacha-Mama dos povos andinos, a Terra sem Males dos Povos Guarani, na busca, sonho e construção do Reino de Deus anunciado por Jesus.
20. Juntos, representantes das Religiões Indígenas e dos Cultos Afro-brasileiros, de Judeus, Cristãos Ortodoxos, Católicos e Evangélicos, Muçulmanos, de mulheres e homens de boa vontade e de todas as crenças, no diálogo e respeito à diversidade da teia da vida, acolhemos os gritos da Amazônia e de todos os biomas e reafirmamos nossa solidariedade e compromisso com a justiça geradora da paz.
21. Caminhamos como povo de Deus que conquista a Terra Prometida e a torna espaço de fartura e fraternura, acolhendo todas as expressões da vida.
Nossos Compromissos
22. Comprometemo-nos a fortalecer as lutas dos movimentos sociais populares: as dos povos indígenas, pela demarcação e homologação de suas terras e respeito por suas culturas; as dos afro-descendentes, pelo reconhecimento e demarcação das terras quilombolas; as das mulheres, por sua dignidade e igualdade e avanço em suas articulações locais, nacionais e internacionais; as dos ribeirinhos pela legalização de suas posses; as dos atingidos pelas barragens, pelo direito à terra equivalente, restituição de seus meios de sobrevivência perdidos e indenização por suas benfeitorias; as dos sem terra, apoiando-os em suas ocupações e em sua e nossa luta pela reforma agrária, contra o latifúndio e os grileiros; as dos Movimentos Ecológicos, contra a devastação da natureza, pela defesa das águas e dos animais.
23. Queremos defender e apoiar o movimento FLORESTANIA, no respeito à agrobiodiversidade e aos valores culturais, sociais e ambientais da Amazônia.
24. Assumimos também o compromisso de respaldar modelos econômicos alternativos na agricultura, na produção de energias limpas e ambientalmente amigáveis; de participar na luta sindical, reforçando a ação dos sindicatos do campo e da cidade, com suas associações e cooperativas e sua luta contra o desemprego, com especial atenção à juventude.
25. Convocamos a todos nós para o trabalho político de base, para a militância em movimentos sociais e partidos ligados às lutas populares; para participar nas lutas por políticas públicas ligadas à educação, saúde, moradia, transporte, saneamento básico, emprego, reforma agrária e para tomar parte nos conselhos de cidadania, nas pastorais sociais, no movimento pela não redução da maioridade penal, no Grito dos Excluídos, nas iniciativas do 1º. de Maio e das Semanas Sociais.
26. Comprometemo-nos ainda a fortalecer e multiplicar nossas Comunidades Eclesiais de Base, criando comunidades eclesiais e ecológicas de base nos bairros das cidades e na zona rural, promovendo a educação ambiental em todos os espaços de nossa atuação; a intensificar a formação bíblica; a incentivar uma Igreja toda ela ministerial, com ministérios diversificados confiados a leigas e leigos assumindo seu protagonismo, como sujeitos privilegiados da missão; a fortalecer o diálogo ecumênico e inter-religioso superando a intolerância religiosa e os preconceitos.
27. Queremos, a partir das CEBs, repensar a pastoral urbana, como um dos grandes desafios eclesiais; assumir o testemunho e a memória dos nossos mártires e empenhar-nos na Missão Continental proposta pela V Conferência do Episcopado Latino-americano e Caribenho, em Aparecida.
Rumo ao XIII Intereclesial no Ceará
28. Acompanhados pelas comunidades e famílias que nos receberam e caravanas de todo o Regional, celebramos a Eucaristia, presença sempre viva do Crucificado/Ressuscitado, comprometendo-nos com todos os crucificados de nossa sociedade, com suas lutas por libertação, para construirmos outro mundo possível, como testemunhas da Páscoa do Senhor, acompanhados pela proteção e benção da Mãe de Deus, celebrada no Círio de Nazaré e invocada na região amazônica, com outros tantos nomes; no Brasil, com o título de Aparecida, e na nossa América, com o de Virgem de Guadalupe.
29. Escolhida a Igreja do Crato, que irá acolher, nas terras do Padim Pe. Cícero, o XIII Intereclesial, recolocamos nos trilhos o trem das CEBs, rumo ao Ceará, enviando a vocês, irmãos e irmãs das comunidades, nosso abraço fraterno, e cheio de revigorada esperança.
AMÉM! AXÉ! AUERÊ! ALELUIA!

FOTOS E TEMÁTICAS DO 10º NORDESTÃO DOS PRESBÍTEROS EM FORTALEZA




















Pe. João Paulo Carvalho, Pe. Gilcimar Lima, Pe. Francisco Alves e representaram os presbíteros da Diocese de Campo Maior no X Nordestão de Presbíteros promovido pela Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, a Comissão Nacional de Presbíteros e as Comissões Regionais de Presbíteros-CRP de 17 a 20 de agosto em Fortaleza-CE.


O evento foi aberto no dia 17, por Dom Sérgio da Rocha, arcebispo de Teresina (PI), presidente do Departamento de Vocações e Ministérios do CELAM, membro da Comissão Episcopal para os Ministérios e a Vida Consagrada da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) e presidente do Regional Nordeste 4.
O tema do Encontro foi: “Formação Presbiterial, em sintonia com o Ano Sacerdotal” e a comemoração dos 25 anos de Encontros de Presbíteros no Brasil. Outros assessores colaboraram com o evento, como o padre Manfredo de Oliveira, que falou sobre a conjuntural atual; enquanto que o tema: "A Missão dos Presbíteros a partir das Cartas Paulinasfoi abordado pela teóloga e professora Tânia Couto.

sábado, 15 de agosto de 2009

PARTE DO PRIMEIRO CAPÍTULO DA TESE DE DOUTORADO DE PE. JOAO PAULO

IGREJA CATÓLICA E SOLIDARIDADE SOCIAL NO BRASIL: UMA PERSPECTIVA SOCIOLÓGICA
Apresentação:

Num contexto nacional de profunda desigualdade económica e social, a Igreja Católica no Brasil assume mais intensamente desde a década de 1970 um papel significativo no campo do trabalho social, denominado terceiro sector, ocupando cada vez mais espaço no plano institucional, caracterizando uma aproximação com o Estado, traduzindo o que Giddens destaca uma parceria com organizações da sociedade civil para promover o desenvolvimento (Giddens, 1998).
Com 8602 paróquias e 267 dioceses, espalhados por 5.560 muniípios, a Igreja católica no Brasil constitui-se uma gigantesca rede de caridade e promoção social, desenvolvendo actividades em diversas áreas onde o estado previdência possui presença limitada ou inexistente. Com uma das piores distribuição de renda, o Brasil tem na Igreja Católica uma Organização Não Governamental de solidariedade social, através dos diversos organismos de apoio paroquial e pastorais, em busca da redução da pobreza e inclusão social.
O presente estudo tem como objectivo identificar as políticas e as iniciativas desenvolvidas pelas Igreja Católica contra a pobreza e a exclusão social, no contexto dos jovens e adolescentes, visando um melhor conhecimento sobre o fenómeno em causa, identificando os atores e destinatários dos programas de ação social desenvolvidos pela Igreja Católica.
Enquanto pertencente do Terceiro Sector, um dos mais atuantes parceiros do Estado-Previdência, a Igreja Católica no Brasil assume uma relevância cada vez maior na execução de políticas públicas implementadas nos últimos dez anos no contexto rurais e urbanos no Brasil.
Com a tendência burocratizante do Estado-Previdência brasileiro, mutilplicam-se as iniciativas de solidariedade direta, com o fortalecimento da Sociedade Civil, instaurando-se, como afirma Hespanha, “um sistema de pluralismo assistencial no qual a Sociedade Civil e o Estado partilham mais responsabilidade no domínio da protecção social, reassumindo a primeira algumas responsabilidades de que o Estado-Providência a tinha aliviado” (Hespanha et al. 2000:14).
Com estruturas relativamente fechadas, a Igreja Católica possui uma extensa rede de instituições de assistência aos jovens e adolescentes.

Caracterização e contextualização do Estado do Piauí:

Na busca de uma compreensão aprofundada do espaço territoral do Piauí, é importante identificar todas as áreas e sistemas, sendo o território entendido como:
Um conjunto de sistemas naturais mais os acréscimos históricos materiais impostos pelo homem. Ele seria formado pelo conjunto indissociável do substrato físico, natural ou artificial, e mais o seu uso, ou , em outras palavras, a base técnica e mais as práticas sociais, isto é, uma combinação de técnicas e de política. Os acréscimos são destinados a permitir, em cada época, uma nova modernização (Santos, 2002, 87).
O Piauí com uma população de 3,07 milhões de habitantes possui sua economia voltada para a agricultura e pecuária. Das 1,16 milhão de habitantes na zona urbana, 604 mil é constituído de homens e 559 de mulheres.
Com 597 mil jovens de 14 a 24 anos, o Piauí desenvolve uma diversidade de projectos que visem integrar seus jovens no contexto da educação e do mundo do trabalho. Paralelo a isso, desenvolve acções de combate ao trabalho infantil, forte incremento financeiro do Governo Federal e uma rede institucional da Igreja Católica presente principalmente na capital do estado, Teresina.
Em 2008, para o estado do Piauí, o Governo Federal, através do Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome transferiu para o Piauí, 400,8 milhões de reais a título de programas sociais de combate à fome e à pobreza, sendo o principal motor o Programa Bolsa Família, que destina por mês 33,4 milhões de reais a 371,7 mil famílias que estão abaixo da linha de pobreza.
O Estado do Piauí possui índices sociais abaixos da média regional, justificando com isso um investimento constante por parte do Governo Federal de recursos visando reduzir a desigualdade presente principalmente nos estados nordestinos. Com a colaboração diversas igrejas e congregrações religiosas, com predomínio da Igreja Católica, o Piauí possui uma grande rede de solidariedade de ação social, presente principalmente na capital e nas cidades de porte médio do estado. O objetivo principal é reduzir a desigualdade e a promoção da cidadania, com a integração dos excluídos no contexto da social, através da ação social e da solidariedade.

Dados do IBGE aponta quem em relação à distribuição da riqueza, o Brasil está londe de ser referência, tendo o Nordeste brasileiro o maior percentual de pessoas pobres (51,6%), sendo que tais índices são mais agravantes quando se destaca a população jovem (de 0 a 17 anos), com 68,1%.
Evidencia-se que, quanto maior a distância do contexto nacional, maior é a desigualdade presente no Estado do Piauí, espaço fecundo para um trabalho social e assistencial implementado pelo Estado, em parceria com a Igreja Católica.
Ação Social – Aspectos Teóricos e Legais:

Enquanto a Ação é compreendida como comportamento humano sempre que na medida em que o agente ou os agentes o relacionem com um sentido subjetivo, a Ação social é entendio por Weber como um comportamento de muitas pessoas cuja orientação é dada pelo ajustamento recíproco de cada comportamento ao do outro (Weber, 1987-I:290).
Trata-se de atividade visando obter resultados, a partir de ação concreta e objetiva, relacionado ao exercício profissional.
Compreender a ação social remete a preocupação passado e presente da humanidade, visando uma reconfiguração das instituições sociais, em busca duma maior objetividade e racionalidade da ação humana.
Enquanto organização do Terceiro Setor, as instituições da Igreja Católica pode ser definidas como entidades de iniciativa privada, que fonece bens, serviços e idéias para melhorar a qualidadade de vida em sociedade, onde poderá existir trabalho voluntário, e que não remunera os detentores e fornecedores de capital (Carvalho, 2005: 23).
O projeto de Assistência Social no Brasil sempre teve apoio do Terceiro Setor e estímulo do Estado:
A assistência social, direito do cidadão e dever do Estado, é Política de Seguridade Social não contributiva, que provê os mínimos sociais, realizada através de um conjunto integrado de ações de iniciativa pública e da sociedade, para garantir o atendimento às necessidades básicas (Artigo 1º da Lei nº 8.742, de 7 de Dezembro de 1993).
Evidencia-se uma ligação muito próxima do Estado com as entidades Não Governamentais na implementação de políticas sociais voltados para os excluídos da sociedade.
Diretamente vinculado às políticas de Ação Social do Estado, as instituições da Igreja Católica assume na sua quase integridade os principais objetivos da Assistência Social estabelecido na Lei.
Os principais objetivos da Ação Social estão presente no Artigo 1º da Lei nº 8.742, de 7 de Dezembro de 1993, que estabelece:
I – a proteção à família, à maternidade, à infância, à adolescencia e à velhice;
II – o amparo às crianças e adolescentes carentes;
III – a promoção da integração ao mercado de trabalho;
IV – a habilitação e reabilitação das pessoas portadoras de deficiência e a promoção de sua integração à vida comunitária.

- responder pela concessão e manutenção dos benefícios de prestação continuada a deficientes e idosos.
- apoiar técnica e financeiramente os serviços, os programas e os projetos de enfrentamento da pobreza em âmbito nacional
- atender, em conjunto com os Estados, o Distrito Federal e os municípios, às ações assistenciais de caráter de emergência.
Os Estados assumem funções mais específicas:
- destinar recursos financeiros aos Municípios (...)
- apoiar técnica e financeiramente os serviços, os programas e os projetos de enfrentamento da pobreza em âmbito regional e local;
- atender, em conjunto com os Municípios, às ações assistenciais de carácter de emergência;
- estimular e apoiar técnica e financeiramente as associações e consócios municipais na prestação de serviços de assistência social;
- prestar os serviços assistenciais cujo custos ou ausência de demanda municipal justifiquem uma rede regional de serviços, desconcentrada, no âmbito do respectivo Estado.

Piauí e o Contexto da Ação Social – Aspectos Históricos:

Segundo estudo de Carvalho, o período de instalação da ASA coincidiu no contexto global com a convocação do Concílio Vaticano II e (1962-1965) e no contexto nacional, com o início do Regime Militar (1964-1985), estimulando os bispos brasileiros, a desenvolver projetos de promoção humana e social visando à melhoria das condições de vida da população. (Carvalho, 2006:44)

Os projetos tiveram como prioridade a educação, a organização e a mobilização em busca dos direitos sociais e políticos das pessoas excluídas social, política e economicamente.(Carvalho, 2006: 22).

As pastorais sociais presente e atuantes na década de 1960 era JAC, JEC, JIC,JOC e JUC. Tais movimentos influenciaram o episcopado brasileiro, especialmente o do Nordeste. Tais pastorais tiveram influência da política episcopal de Dom Avelar Brandão Vivela.

A ação social da Igreja no Piauí tem forte influência do Concílio Vaticano II, iniciada no papado de João XXIII, onde este afirmava que a Igreja devia abrir as janelas para ver o mundo, significando que:

Abrindo as janelas para ver o mundo, a Igreja se põe à escuta dos anseios e clamores da humanidade na vida real. Leva em consideração o progresso das ciências e da técnica, a diversidade das culturas, a marcha da História. E se sente inserida no mundo.

Tendo a Constituição Pastoral Gaudium Et Spes (sobre a Igreja no mundo atual), carta magna da Ação Social da Igreja, a 4ª das Constituições do Concílio Vaticano II, promulgado pelo Papa Paulo VI em 7 de Dezembro de 1965.

Setúbal destaca que a origem do serviço social no Piauí, com as caracteriísticas e o modelo atual, remete aos anos 1950, com a criação em 1958 da Serviço Social da Indústria – SESI, do Serviço Social do Estado – Serse, em 1960 e da Ação Social Arquidiocesana – ASA, em 1960 (sic).(Setúbal, 1993).

Anterior a isso, sempre esteve presente atividades caritativas, ligada à Santa Casa de Misericórdia e outras entidades caritativas ligadas à Igreja, como a Irmandade de São Vicente e órdem de São Francisco.

A Ação Social Arquidiocesana – ASA, instituição de Ação Social da Igreja Católica da Arquidiocese de Teresina – Piauí, foi fundada em 13 de junho de 1956, por Dom Avelar Brandão Vilela, à data arcebispo da arquidiocese. Com 53 anos de atividade, a ASA desenvolve atualmente Ação Social a partir de duas linhas de ação: Assistência Social e Saúde. Na primeira linha de ação, envolve a Infância e Adolescência, Adolescência e Juventude, Organização Política e Social e Terceira Idade. Na Linha de Ação Saúde, abrange a Caminhada da Fraternidade, o Centro Maria Imaculada (reabilitação dos doentes de Hanseníase) o Lar da Fraternidade (atendimento a portadores do vírus HIV/AIDS) e o Lar de Misericórdia (acolhe o povo pobre e doente em geral).

Segundo relatório da ASA, na área de Assistência Social, esta desenvolve ações de proteção e promoção à família, à infância, à juventude e à velhice, bem como a portadores e portadoras de deficiência, com particular prioridade às pessoas pobres, mediante programas e projetos voltados para o atendimento, assessoramento, defesa e garantia de direitos dos beneficiários e beneficiárias, tais como: estímulo à escolaridade, promoção da integração ao mercado do trabalho, inclusão social das pessoas portadoras de deficiência e doenças, tais como aids, hanseníase e câncer.

sexta-feira, 14 de agosto de 2009

SITE DO TRABALHO DO MOVIMENTO EMAUS EM TERESINA FUNDADO POR PE. JOÃO PAULO.


No site: http://ceutagecomceut.blogspot.com/2008/11/movimento-emas-pequenos-passos-de-um.html informa o trabalho do movimento Emaús que é uma ONG que tem como objetivo montar grupos comunitários para recolher materiais recicláveis, consertá-los e revendê-los para as populações carentes por preços baixos. Foi fundado em 1949 na França e hoje existe em mais de 40 países. No Brasil, oito Estados já contam com o movimento, inclusive o Piauí, onde chegou em 1997.Em Teresina há dois grupos, um voltado para a reciclagem e outro que trabalha com a parte agrícola. Através de doações, os Emaús vão juntando materiais suficientes para reformarem e venderem a preços acessíveis para as populações carentes. Antônio Francisco Silva, presidente da ONG em Teresina, disse que “através das doações da população o movimento tende a crescer, e tudo o que vier para o bem da comunidade é bem vindo. Somos um grupo da Igreja católica, mas todas as igrejas ajudam, sejam católicas ou não. Não recebemos ajuda de políticos, mas aquele que vier ajudar será bem vindo, mas sem compromisso, a ajuda é para a comunidade”.O dinheiro arrecadado é dividido entre os participantes, sendo que uma parte é destinada para pagar as despesas e a outra é dividida entre os trabalhadores. Eles fazem um bazar a cada duas semanas ou a cada mês, e os materiais reciclados são vendidos a um preço bem acessível. Como exemplo, um guarda-roupa custa 30 reais. “A minha maior satisfação é a de servir cada um que precisa da gente. E o meu maior objetivo é poder dizer que cada um que trabalha nesse projeto consegue ganhar um salário mínimo”, conta Antônio Francisco Silva.Hoje o grupo é uma alternativa para quem não tem emprego, pois ainda não dá condições para que os participantes sobrevivam com o dinheiro arrecadado. De acordo com Antônio Francisco Silva, “antes eu não tinha meus dez reais, mas hoje eu já tenho meus dez reais todo mês. Antes eu não tinha cinqüenta reais, mas hoje eu já posso conseguir”.Os livros recebidos através das doações não são vendidos, pois já existe uma biblioteca e uma sala de reforço para quem quiser estudar. Francisca, trabalhadora dos Emaús, voltou a estudar após 24 anos e relata que “já temos três crianças do bairro que vem todos os dias ter aula de reforço e usar nossos livros”.Antônio Silva resume o trabalho do movimento em vontade e sonho, dizendo que “é tão bom quando a gente tem a vontade. É ruim ver gente que tem tantas coisas e não tem vontade. Ter vontade e sonhar acordado é uma realização, agora você não ter vontade ou sonhar dormindo é uma tristeza, pois todo sonho dormindo não acontece”.

INTERPRETAÇÃO DO SEGREDO DE FÁTIMA SEGUNDO CARDEAL JOSEPH RATZINGER


A primeira e a segunda parte do « segredo » de Fátima foram já discutidas tão amplamente por específicas publicações, que não necessitam de ser ilustradas novamente aqui. Queria apenas chamar brevemente a atenção para o ponto mais significativo. Os pastorinhos experimentaram, durante um instante terrível, uma visão do inferno. Viram a queda das « almas dos pobres pecadores ». Em seguida, foi-lhes dito o motivo pelo qual tiveram de passar por esse instante: para « salvá-las » — para mostrar um caminho de salvação...
...Do mesmo modo que tínhamos indentificado, como palavra-chave da primeira e segunda parte do « segredo », a frase « salvar as almas », assim agora a palavra-chave desta parte do « segredo » é o tríplice grito: « Penitência, Penitência, Penitência! » Volta-nos ao pensamento o início do Evangelho: « Pænitemini et credite evangelio » (Mc 1, 15). Perceber os sinais do tempo significa compreender a urgência da penitência, da conversão, da fé. Tal é a resposta justa a uma época histórica caracterizada por grandes perigos, que serão delineados nas sucessivas imagens. Deixo aqui uma recordação pessoal: num colóquio que a Irmã Lúcia teve comigo, ela disse-me que lhe parecia cada vez mais claramente que o objectivo de todas as aparições era fazer crescer sempre mais na fé, na esperança e na caridade; tudo o mais pretendia apenas levar a isso.
Examinemos agora mais de perto as diversas imagens. O anjo com a espada de fogo à esquerda da Mãe de Deus lembra imagens análogas do Apocalipse: ele representa a ameaça do juízo que pende sobre o mundo. A possibilidade que este acabe reduzido a cinzas num mar de chamas, hoje já não aparece de forma alguma como pura fantasia: o próprio homem preparou, com suas invenções, a espada de fogo. Em seguida, a visão mostra a força que se contrapõe ao poder da destruição: o brilho da Mãe de Deus e, de algum modo proveniente do mesmo, o apelo à penitência. Deste modo, é sublinhada a importância da liberdade do homem: o futuro não está de forma alguma determinado imutavelmente, e a imagem vista pelos pastorinhos não é, absolutamente, um filme antecipado do futuro, do qual já nada se poderia mudar. Na realidade, toda a visão acontece só para chamar em campo a liberdade e orientá-la numa direcção positiva. O sentido da visão não é, portanto, o de mostrar um filme sobre o futuro, já fixo irremediavelmente; mas exactamente o contrário: o seu sentido é mobilizar as forças da mudança em bem. Por isso, há que considerar completamente extraviadas aquelas explicações fatalistas do « segredo » que dizem, por exemplo, que o autor do atentado de 13 de Maio de 1981 teria sido, em última análise, um instrumento do plano divino predisposto pela Providência e, por conseguinte, não poderia ter agido livremente, ou outras ideias semelhantes que por aí andam. A visão fala sobretudo de perigos e do caminho para salvar-se deles.

As frases seguintes do texto mostram uma vez mais e de forma muito clara o carácter simbólico da visão: Deus permanece o incomensurável e a luz que está para além de qualquer visão nossa. As pessoas humanas são vistas como que num espelho. Devemos ter continuamente presente esta limitação inerente à visão, cujos confins estão aqui visivelmente indicados. O futuro é visto apenas « como que num espelho, de maneira confusa » (cf. 1 Cor 13, 12). Consideremos agora as diversas imagens que se sucedem no texto do « segredo ». O lugar da acção é descrito com três símbolos: uma montanha íngreme, uma grande cidade meia em ruínas e finalmente uma grande cruz de troncos toscos. A montanha e a cidade simbolizam o lugar da história humana: a história como árdua subida para o alto, a história como lugar da criatividade e convivência humana e simultaneamente de destruições pelas quais o homem aniquila a obra do seu próprio trabalho. A cidade pode ser lugar de comunhão e progresso, mas também lugar do perigo e da ameaça mais extrema. No cimo da montanha, está a cruz: meta e ponto de orientação da história. Na cruz, a destruição é transformada em salvação; ergue-se como sinal da miséria da história e como promessa para a mesma.
Aparecem lá, depois, pessoas humanas: o Bispo vestido de branco (« tivemos o pressentimento que era o Santo Padre »), outros bispos, sacerdotes, religiosos e religiosas e, finalmente, homens e mulheres de todas as classes e posições sociais. O Papa parece caminhar à frente dos outros, tremendo e sofrendo por todos os horrores que o circundam. E não são apenas as casas da cidade que jazem meio em ruínas; o seu caminho é ladeado pelos cadáveres dos mortos. Deste modo, o caminho da Igreja é descrito como uma Via Sacra, como um caminho num tempo de violência, destruições e perseguições. Nesta imagem, pode-se ver representada a história dum século inteiro. Tal como os lugares da terra aparecem sinteticamente representados nas duas imagens da montanha e da cidade e estão orientados para a cruz, assim também os tempos são apresentados de forma contraída: na visão, podemos reconhecer o século vinte como século dos mártires, como século dos sofrimentos e perseguições à Igreja, como o século das guerras mundiais e de muitas guerras locais que ocuparam toda a segunda metade do mesmo, tendo feito experimentar novas formas de crueldade. No « espelho » desta visão, vemos passar as testemunhas da fé de decénios. A este respeito, é oportuno mencionar uma frase da carta que a Irmã Lúcia escreveu ao Santo Padre no dia 12 de Maio de 1982: « A terceira parte do “segredo” refere-se às palavras de Nossa Senhora: “Se não, [a Rússia] espalhará os seus erros pelo mundo, promovendo guerras e perseguições à Igreja. Os bons serão martirizados, o Santo Padre terá muito que sofrer, várias nações serão aniquiladas” ».

Na Via Sacra deste século, tem um papel especial a figura do Papa. Na árdua subida da montanha, podemos sem dúvida ver figurados conjuntamente diversos Papas, começando de Pio X até ao Papa actual, que partilharam os sofrimentos deste século e se esforçaram por avançar, no meio deles, pelo caminho que leva à cruz. Na visão, também o Papa é morto na estrada dos mártires. Não era razoável que o Santo Padre, quando, depois do atentado de 13 de Maio de 1981, mandou trazer o texto da terceira parte do « segredo », tivesse lá identificado o seu próprio destino? Esteve muito perto da fronteira da morte, tendo ele mesmo explicado a sua salvação com as palavras seguintes: « Foi uma mão materna que guiou a trajectória da bala e o Papa agonizante deteve-se no limiar da morte » (13 de Maio de 1994). O facto de ter havido lá uma « mão materna » que desviou a bala mortífera demonstra uma vez mais que não existe um destino imutável, que a fé e a oração são forças que podem influir na história e que, em última análise, a oração é mais forte que as balas, a fé mais poderosa que os exércitos.

A conclusão do « segredo » lembra imagens, que Lúcia pode ter visto em livros de piedade e cujo conteúdo deriva de antigas intuições de fé. É uma visão consoladora, que quer tornar permeável à força sanificante de Deus uma história de sangue e de lágrimas. Anjos recolhem, sob os braços da cruz, o sangue dos mártires e com ele regam as almas que se aproximam de Deus. O sangue de Cristo e o sangue dos mártires são vistos aqui juntos: o sangue dos mártires escorre dos braços da cruz. O seu martírio realiza-se solidariamente com a paixão de Cristo, identificando-se com ela. Eles completam em favor do corpo de Cristo o que ainda falta aos seus sofrimentos (cf. Col 1, 24). A sua própria vida tornou-se eucaristia, inserindo-se no mistério do grão de trigo que morre e se torna fecundo. O sangue dos mártires é semente de cristãos, disse Tertuliano. Tal como nasceu a Igreja da morte de Cristo, do seu lado aberto, assim também a morte das testemunhas é fecunda para a vida futura da Igreja. Deste modo, a visão da terceira parte do « segredo », tão angustiante ao início, termina numa imagem de esperança: nenhum sofrimento é vão, e precisamente uma Igreja sofredora, uma Igreja dos mártires torna-se sinal indicador para o homem na sua busca de Deus. Não se trata apenas de ver os que sofrem acolhidos na mão amorosa de Deus como Lázaro, que encontrou a grande consolação e misteriosamente representa Cristo, que por nós Se quis fazer o pobre Lázaro; mas há algo mais: do sofrimento das testemunhas deriva uma força de purificação e renovamento, porque é a actualização do próprio sofrimento de Cristo e transmite ao tempo presente a sua eficácia salvífica.

Chegamos assim a uma última pergunta: O que é que significa no seu conjunto (nas suas três partes) o « segredo » de Fátima? O que é nos diz a nós? Em primeiro lugar, devemos supor, como afirma o Cardeal Sodano, que « os acontecimentos a que faz referência a terceira parte do “segredo” de Fátima parecem pertencer já ao passado ». Os diversos acontecimentos, na medida em que lá são representados, pertencem já ao passado. Quem estava à espera de impressionantes revelações apocalípticas sobre o fim do mundo ou sobre o futuro desenrolar da história, deve ficar desiludido. Fátima não oferece tais satisfações à nossa curiosidade, como, aliás, a fé cristã em geral que não pretende nem pode ser alimento para a nossa curiosidade. O que permanece — dissemo-lo logo ao início das nossas reflexões sobre o texto do « segredo » — é a exortação à oração como caminho para a « salvação das almas », e no mesmo sentido o apelo à penitência e à conversão.

Queria, no fim, tomar uma vez mais outra palavra-chave do « segredo » que justamente se tornou famosa: « O meu Imaculado Coração triunfará ». Que significa isto? Significa que este Coração aberto a Deus, purificado pela contemplação de Deus, é mais forte que as pistolas ou outras armas de qualquer espécie. O fiat de Maria, a palavra do seu Coração, mudou a história do mundo, porque introduziu neste mundo o Salvador: graças àquele « Sim », Deus pôde fazer-Se homem no nosso meio e tal permanece para sempre. Que o maligno tem poder neste mundo, vemo-lo e experimentamo-lo continuamente; tem poder, porque a nossa liberdade se deixa continuamente desviar de Deus. Mas, desde que Deus passou a ter um coração humano e deste modo orientou a liberdade do homem para o bem, para Deus, a liberdade para o mal deixou de ter a última palavra. O que vale desde então, está expresso nesta frase: « No mundo tereis aflições, mas tende confiança! Eu venci o mundo » (Jo 16, 33). A mensagem de Fátima convida a confiar nesta promessa.

Joseph Card. Ratzinger
Prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé
Fonte:
http://www.vatican.va/roman_curia/congregations/cfaith/documents/rc_con_cfaith_doc_20000626_message-fatima_po.html

terça-feira, 11 de agosto de 2009

MENSAGENS SOBRE ESPIRITUALIDADE DA CRUZ DE S. LUIS DE MONTFORT


Sua espiritualidade temos seguintes fundamentos:


1-Reproduzir a imagem de Cristo Crucificado em nós.


2- Faze-lo través e por meio de nossa consagração a María como escravo de amor.Em outras palabras: viver a Cruz Redentora a través de María.


Toda sua vida foi firmada no desejo de: “adquirir a sabedoria eterna que é Jesús Cristo, Filho de Deus e Filho de Maria.”Optou por uma condição radical de vida formulada como “a santa escravidão”, voluntária de amor a Virgen Santísima, Gestora de Cristo.


Sua Santidade João Paulo II foi um grande devoto de Monfoet, foi dele que tomou o seu lema”Totis Tuus” ( Todo de Maria).


“Aos Amigos da Cruz”São Luis Maria Grignion de Montfort


(Resumido pelo Padre Jordi Rivero – Tradução e adaptação José Alexandre Faria – Coordenador Geral Projeto Crescer)




O tratado de São Luis Maria sobre a necessidade e da prática da Cruz está repleto de sabedoria divina, necessária para a santidade e também recusada por quase todos. Aqui se encontra o segredo para ser verdadeiros discípulos de Jesus Cristo.O santo escreveu uma carta em 1714 para a Associação dos “Amigos da Cruz” que ele mesmo fundou. Foi escrita enquanto São Luis Participava de um retiro onde se meditava a Paixão de Nosso Senhor Jesus Cristo, em um momento de silêncio e reflexão. Seu propósito era ajudá-los a ver a centralidade da Cruz e como vivê-la.
RAZÕES PARA SER AMIGO DA CRUZ:
Para ser outro Cristo ( Gálatas 2,20).-Um homem escolhido por Deus.- Entre mil pessoas que vivem segundo os sentidos e a razão, vive com a luz pura da fé e um amor verdadeiro a Cruz.- É um homem pela terra como estrangeiro- Combate no mundo porém não foge dele. Para estar Unidos.Os amigos da Cruz são mais fortes que os exércitos de mundo. Os demônios se unem para perdê-los, se unem para derrubá-los.Os avaros se unem para fazer negócios, unam-se vocês para conquistar os tesouros da cruz. Para triunfar sobre o demonio, o mundo e a carne.
Com o amor às humilhações se derruba o orgulho de Satanás
Com o amor a pobreza, se triunfa sobre a avareza do mundo.
Com o amor a dor, se mortifica a sensualidade da carne.
Reflexão
Tens verdadeiro desejo e vontade de viver assim, com a graça de Deus, com o poder da Cruz e de Nossa Senhora das Dores?
Utilizas os meios necessários para consegui-lo?
Tens entrado no verdadeiro caminho da vida, que, é o caminho estreito do Calvário ou vais, sem dar conta, cedendo o caminho largo do mundo que conduz a perdição?
Sabes que existe um caminho que ao homem se parece reto e seguro, porém na realidade leva a morte?3
Sabes distinguir com certeza entre a voz de Jesus e sua graça e a verdade do mundo e sua natureza?
“O que me segue não andará nas trevas” (Jo 8,12) “Animo Eu venci o mundo” (Jo 16,33)
Os dois LADOS: 1- O LADO DE JESUS CRISTO 2- O LADO DO MUNDO E DO DEMÔNIO
O lado de Jesus Cristo:
A Corrupção do mundo se opõe a este caminho, tornando-o estreito. Porém Jesus vai adiante, descalço, coroado de espinhos, seu corpo ensangüentado e carregando sua pesada cruz.O número dos eleitos é menor do que se pensa (Mt 20,16; Lc 13, 23-24). Somente os esforçados e os violentos ganharão o céu (Mt 11,12). Só o que segue um pequeno rebanho (Lc. 12,32) por que sua voz não se pode ouvir em meio do tumulto do mundo ou por que se carece de valor necessário para segui-lo na pobreza, as dores, as humilhações e demais cruzes que é preciso levar para servir ao Senhor todos os dias.“Vós, porém, não viveis segundo a carne, mas segundo o Espírito, se realmente o espírito de Deus habita em vós. Se alguém não possui o Espírito de Cristo, este não é dele” (ver: Rom. 8,9).“Pois os que são de Jesus Cristo crucificaram a carne, com as paixões e concupiscências." (Gal. 5,24)."Ou somos imagem vivas de Jesus Cristo ou nos condenamos"."O Servo não é maior que seu Senhor" (Jo 3,16).O Bando do Mundo e do demônio:Os mais importantes do mundo correm atrás dele. As multidões vão pelo caminho largo atraído pela aparência esplendida e brilhante. Buscam o mais fácil e prazeroso.Para manter-se em seu engano se dissem: “Deus é bom e não nos condena. Deus não proíbe as diversões. Não nos condenaremos por issso. Fora os escrúpulos! “Não morrereis” *(disse a serpente no paraíso a Eva, enganando-a sobre as conseqüências do pecado) ( Gen. 3,4).Quase todos abandonam a Jesus no caminho da Cruz. Os do mundo vêem a Cruz como loucura, os judeus se escandalizan dela ( 1 Cor 1,23), e nós seus filhos, vivificados por seu Espirito, também nos fazemos inimigos da Cruz ( Fl. 3,18). “Também vós quereis quereis ir?”(Jo 6,67).“Este tempo deprecia a pobreza de minha Cruz para correr atrás das riquezas, se esquiva das dores de minha Cruz para buscar os prazeres, odeia as humilhações de minha Cruz para buscar as honras. Querem conformar-se com este tempo” ( Rm 12,22).Tenho aparentemente muitos amigos que asseguram amamar-me, porém no fundo me entristecem, por que não amam minha Cruz. “Tenho muitos amigos de minha mesa e muitos e poucos amigos de minha Cruz”. Não nos deixemos arrastar pelos sentidos como Eva. Olhemos o autor e consumador de nossa fé (Hb 12,2), Jesus Criato Crucificado. Fujamos da corrupção do mundo.
MANDAMIENTO DE JESUS PARA A PERFEIÇÃO CRISTÓSe alguém quiser vir comigo, renuncie-se a si mesmo, tome sua cruz e siga-me.”(Mt 16,24 Lc 9,23)A perfeição cristã consiste em 1-Em querer ser santo: "Se alguém quiser vir comigo",2-Em abnegar-se: "que renuncie-se a si mesmo",3-Em sofrer: "tome sua Cruz"4-En obrar: “e me siga"1-Em querer ser santo: "Se alguém quiser vir comigo":"Se algém quiser vir comigo". Não disse “os que querem”, oara indicar que são poucos os que buscam levar a Cruz. Portanto é muito reduzido o número dos que se salvam . (As Escrituras e los santos, como exemplo: S.Basilio, S. Efrém, S. Simão o Estilita, S.Teresa de Ávila, S. Agustínho, Sto. Tomas Aquino concordam neste ponto.O conhecimento prático do Mistério da Cruz se comunica a poucos.“A vós é dado conhecer os mistérios do Reino dos Céus, porém a eles não” (Mt 13,11).Há falta de vontade:“Querer ir com Jesus (“quem quiser vir comigo”), ou seja, que tenha uma vontade sincera, firma, decidida. Não por instinto natural (por impulso), rotina, egoísmo ou respeito humano, e sim pela graça do Espírito Santo.Aqueles que não tem tal determinação somente com um pé. “A Cruz se deve levar amar com o coração generoso e de boa vontade”.“Uma pessoa sem vontade é o mesmo que uma ovelha contaminada com sarna, basta apenas uma para contagiar todo o rebanho. Se uma destas entrar no redil pela porta falsa do mundo, deixe-a de fora em Nome de Jesus, pois é “como o lobo entre as ovelhas” (ver Mt.7,15 Jo 10,1).Jesus, “em vez de Jesús, “ em vez de gozo que se lhe oferecera, ele suportou a cruz e está sentado à direita do trono de Deus”. (Hebr. 12,2).
2-Em abnegarse: "que renuncie a si mesmo": O que quer seguir-me, imitar-me, deve gloriar-se somente com a pobreza, as humilhações, e aos padecimentos de minha Cruz: “que renuncie a si mesmo”. Meu amor está em desejar tanto seguir-me que colocará todo coração no Reino sem medir as dificuldades.“Fora do meio de vocês os soberbos “iluminados” por suas próprias luzes e talentos, os charlatões que amam muito o ruído, os devotos orgulhosos que, dizem “Não somos como os demais” (Lc. 18,11), os que não podem suportar que os censurem, sem justificar-se, que os ataquem, sem que se defendam. ** Santa Tereza D’avila, costumava dizer que mensuramos nosso nível de santidade pela condição que temos de não nos defendermos quando nos atacam, censuram, ou criticam. Ela ensinava que pelo caminho da abnegação e humilhação mais rapidamente se torna santo, principalmente quando: “Bem-aventurados sereis quando vos caluniarem, quando vos perseguirem e disserem falsamente todo o mal contra vós por causa de mim. Alegrai-vos e exultai, porque será grande a vossa recompensa nos céus, pois assim perseguiram os profetas que vieram antes de vós.” (Mt 5, 11-12)“Não admitam você pessoas delicadas (sensíveis) que recusem a menor moléstia, que gritam e se queixam na mais leve dor”.
3-O padecer: "que carregue sua cruz"A Cruz são suas humilhações, menosprezo, dores, enfermidades, pobrezas, tentações, seqüelas, abandonos, penalidades espirituais e todo tipo de cincunstâncias duras ou difíceis.Deus não se alegra com o sofrimento de ninguém. Porém Deus tira suas maiores vitórias contra o inimigo se seus filhos levam o sifrimento com amor e confiança em Deus. A Cruz nos purifica de tantos apegos a carne e ao mundo e nos ajuda a buscar primeiro o Reino de Deus.Deus sabe e tem sob sua providência cada Cruz que tenhamos que levar. De maneira nenhuma nos mandará uma Cruz, sem que Ele nos dê a graça necessária levá-la, mas isto se lhe pedirmos. Ele sabe a cruz que nos convém.“Que cada um carregue sua própria Cruz com entusiasmo e valentia. A Cruz que minha Sabedoria lhe fabrico, com número, peso e medida, como fruto do amor infinito que tenho por ti”.“Que carregue”, que não a arraste, nem a recuse, nem a corte, nem a oculte. Em outras palavras, que se leve com as mãos ao alto, sem impaciência, nem repugnância, sem queixas, nem críticas voluntárias, sem meias escritas nem remendos.“Que a plante em seu coração por amor, para transforma-la em sarça ardente, que dia e noite se abrase em puro amor de Deus, sem que chegue a consumir-se...pois que nada há tão necessário, tão útil, tão doce e tão glorioso que padecer algo por Jesus Cristo”S. Paulo diz : S. PaUlo: " Quanto a mim, não pretendo, jamais, gloriar-me, a não ser na cruz de nosso Senhor Jesus Cristo, pela qual o mundo está crucificado para mim e eu para o mundo. " (Gal. 6,14).Nada tão necessário como carregar a Cruz..A Cruz é necessária para nós pecadores. As cruzes desta vida nos ajudam a unirmos a Cristo e não cair no castigo do inferno que todos merecemos.
Não pensemos que estamos seguros de não ir ao Inferno, pois muitos crendo serem bons estavam seguros de si mesmos, e acabaram se descuidados e acabaram por condenados. Pensamos isto quando sofremos alguma pena? Estaríamos contentes de sofrer agora se pois pensarmos que o Purgatório é um padecer horrível. Muitos vão ali por haver-se conformado com confissões rápidas. Vale a pena padecer agora e arrancar do demônio o livro da morte (Col. 2,14) em que ele leva anotados todos nossos pecados e o castigo que merecem. Na outra vida tudo se paga até o último centavo (Mt. 5,26), até a última palavra ociosa ( Mt. 12,36). Esse mal pensamento, essa palavra que se levou ao vento, serão castigados com espantosos tormentos ( Hb 10,31).Não é que a Deus falte a misericórdia. Mas bem há que entender que a misericórdia se consegue se nos abrimos a Cruz. Jesus nos disse: “podeis beber o cálice”? (Mt. 20,22) Execelente coisa é desejar a glória de Deus. Porém desejá-la e pedi-la sem se decidir a padece-la é uma loucura e um pedido extravagante. “Não sabem o que pedem”. Em realidade para ser amigos de Deus e para entrar no reino”Temos que caminhar muito, passar por muitas tribulações” ( Atos14,22)A Cruz Necessária para os filhos de Deus.Com razão nos gloriamos de ser filhos de Deus, porém também devemos gloriarrnos de sofrer com Ele.“Estais esquecidos da palavra de animação que vos é dirigida como a filhos: Filho meu, não desprezes a correção do Senhor. Não desanimes, quando repreendido por ele; pois o Senhor corrige a quem ama e castiga todo aquele que reconhece por seu filho” LER Carta aos Hebreus 12, 5-11.A Cruz é necesaria para os discipulos de Cristo CrucificadoLER.: (1 Cor. 1,22-24). .(Mat. 11,25) . (1 Cor. 2,2)
A cruz es necessaria para os membros de Jesus Cristo.Somos membros de Jesus Cristo, somos seu corpo: Que honra! Porém somos chamados a padecer com Ele.Se a cabeça de Cristo está coroada de espinhos (Mt 27,29), estarão os membros coroados de rosas?Se a cabeça é escarneada a caminho do Calvário (Mc 14,65), quererão os membros viverem perfumados?Se a cabeça não tem onde reclinar-se (Mt 8,20), descansarão os membros entre plumas? Isso seria uma monstruosidade! Não vivam ilusões.Estes Cristãos que se vê em todas as partes trajados da moda, em extremo delicados...não são os verdadeiros discípulos de Jesus Cristo Crucificado. Quantas caricaturas de cristãos que...enquanto fazem com uma mão o sinal da Cruz, com seus inimigos em seus corações!Se Cristo é nossa cabeça, aceitemos com Ele a Cruz por amor. Pois é necessário que o discípulo seja tratado como seu Mestre, os membros como a cabeça. E, se o céu nos oferece como a Santa Catarina de Sena uma coroa de espinhos e outra de rosas, escolhamos a de espinhos e ponhamo-la em nossa cabeça para assemelharmos mais a Jesus Cristo.Ver a Cruz sabendo que somos pedras vivas.Somos pedras vivas do templo. Nos dispomos a ser moldados pela cruz para nos tornarmos pedras polidas e prontas para serem assentadas.Não resistir ao Senhor que como Arquiteto amoroso da golpes de martelo para converter-nos em belas pedras para seu edifício.Há que sofrer como os Santos.Jesus Crucificado e Maria a seus pés, seu coração transpassado por uma espada. Esta é a Cruz. Se entendemos que ter a apreciação popular é ser cristão, não seguiremos a Jesus.Vejamos bem os Santos. Eles seguiram o exemplo de Jesus com heróica fidelidade sem comparar-se ao mundo e nem conformar-se com a mediocridade espiritual.Devemos conhecer e refletir a miúdo sobre suas vidas para ver a grandeza do amor que viveram. Estamos unidos aos Santos em torno de Cristo, pela Comunhão dos Santos. Eles são uma “imensa nuvem de testemunhos”( Hb 12,1). Podemos então eximir-nos de imita-los no seu amor a cruz? Se não sofremos como santos, o faremos como malditos. Não é possível, ao final evitar o sofrimento. Se não sofremos como o Senhor, então não teremos Seu consolo , sua graça. S em a ajuda de Jesus, sofremos sozinhos e ainda teremos o peso do demônio: a impaciência, a murmuração e ao final o inferno. Nada tão doce como a Cruz.Temos uma forte tendência de conformar-nos como “não fazer nda de mal” e não dispomos a sofrer por amor a Jesus. Todos nós cristãos cremos na Cruz porém perdemos consciência de sua realidade. Vamos vivendo na teoria. O mundo nos vai fazendo minimizar a atualidade por que a lei do mundo é: evitar o sofrimento a todo custo. Nada se pode esperar dos cristãos assim, são terras que não produzem...Se sofremos por amor a Deus, a Cruz se fará mais e mais suaves porque a carne terá menos domínio sobre nós:“A Cruz abraçada é a menos pesada” Santa Tereza D’avila.Nada tão glorioso.Os Santos gozavam no Espirito em meio dos tormentos. A alegria da Cruz é maior que a de prisioneisos liberados da prisão. Devemos estar alegres nas provas, saltar de alegria na perseguição não porque nos dá prazer os sofrimentos mas por que Deus vem nos socorrer. Por isso dizia Santa Teresa D’avila: “Ou padecer ou morrer”O mundo chama a Cruz: “loucura, infâmia, necessidade por que estão cegos e a julgam humanamente. Porém para nós a Cruz é a Glória ( I Cor. 1, 1-2). São Pedro e Paulo são mais gloriosos por suas prisões e açoites que por terem sido arrebatados em êtasishttp://www.corazones.org/santos/luis_montfort.htm

HOMILIAS DOS DOMINGOS


Domingo 16/08/2009: ASSUNÇÃO DE NOSSA SENHORA


Cor Litúrgica: Branca


1ª Leitura: Apocalipse 11, 19; 12, 1. 3-6. 10 Salmo: 44(45)2ª Leitura: 1 Coríntios 15, 20-27Evangelho: Lucas 1, 39-56




Evangelho:Alguns dias depois, Maria se aprontou e foi depressa para uma cidade que ficava na região montanhosa da Judéia. Entrou na casa de Zacarias e cumprimentou Isabel. Quando Isabel ouviu a saudação de Maria, a criança se mexeu na barriga dela. Então, cheia do poder do Espírito Santo, Isabel disse bem alto:- Você é a mais abençoada de todas as mulheres, e a criança que você vai ter é abençoada também! Quem sou eu para que a mãe do meu Senhor venha me visitar?! Quando ouvi você me cumprimentar, a criança ficou alegre e se mexeu dentro da minha barriga. Você é abençoada, pois acredita que vai acontecer o que o Senhor lhe disse.A Canção de MariaEntão Maria disse:- A minha alma anunciaa grandeza do Senhor.O meu espírito está alegrepor causa de Deus, o meu Salvador.Pois ele lembrou de mim,sua humilde serva!De agora em diante todos vão me chamar demulher abençoada,porque o Deus Poderosofez grandes coisas por mim.O seu nome é santo,e ele mostra a sua bondadea todos os que o tememem todas as gerações.Deus levanta a sua mão poderosae derrota os orgulhososcom todos os planos deles.Derruba dos seus tronos reis poderosose põe os humildes em altas posições.Dá fartura aos que têm fomee manda os ricos emboracom as mãos vazias.Ele cumpriu as promessasque fez aos nossos antepassadose ajudou o povo de Israel, seu servo.Lembrou de mostrar a sua bondade a Abraãoe a todos os seus descendentes,para sempre.Maria ficou mais ou menos três meses com Isabel e depois voltou para casa.




Comentário do Evangelho


Visitação A cena da visitação de Maria a sua prima Isabel é exclusiva de Lucas. A narrativa desenvolve-se em torno de dois conteúdos teológicos: o primeiro, é afirmação da subordinação de João Batista a Jesus desde o ventre materno; o segundo, é a apresentação sumária do projeto salvífico de Deus. Em uma cena que sugere dinamismo e presteza, Maria vai, apressadamente, percorrendo montanhas, até a cidade e a casa de Isabel. A presença de Jesus no ventre de Maria faz o menino (João) exultar no ventre de Isabel, e esta fica repleta do Espírito Santo. Ela reconhece que Maria é a mãe do Senhor. As palavras de Maria, em seu cântico, resumem o projeto de Deus. Ela é a escolhida para participar de maneira grandiosa no projeto de Deus, a partir da sua maternidade. E o seu Deus é o Deus misericordioso que vem libertar os pobres do jugo dos ricos poderosos. Na primeira leitura, em um combate celestialno estilo apocalíptico judaico marcado pelo dualismo, aparece a figura da mulher cujo filho vence o dragão. A tradição identifica esta mulher com Maria. Na segunda leitura, Paulo apresenta a ressurreição como a vitória da vida sobre a morte. Conforme a tradição da Igreja sobre a Assunção de Maria, ao terminar sua vida terrena, ela permanece participando da vida divina. Fica, assim, em evidência a continuidade da vida presente, no mundo, com a vida eterna na comunhão de amor com Deus. Esta continuidade, que já acontece com Jesus, nos é dada pela graça de Deus.Oração:Pai, conduze-me pelos caminhos de Maria, tua fiel servidora, cuja vida se consumou, sendo exaltada por ti. Que, como Maria, eu saiba me preparar para a comunhão plena contigo.

domingo, 9 de agosto de 2009

PROJETOS SOCIAIS JA ENCAMINHADO PARA A PARÓQUIA S. PEDRO NOLASCO E AREA PASTORAL N. SRA. DE NAZARÉ.E APROVADOS

COORDENAÇÃO DAS PASTORAIS SOCIAIS - DIOCESE DE CAMPO MAIOR – PI
FONE: 86 99488419 ou 86 94468491 EMAIL: joaopaulocarvalhoesilva@hotmail.com
CNPJ: 06.986.459/0001-92

SOLICITAÇÃO DE ALIMENTOS:

Senhor Superintendente da CONAB
José Nilson Gomes de Sousa

Utilizo-me deste expediente, para expor e requerer de Vossa Excelência o que segue:

1 – Na experiência realizada em Assunção do Piauí, obtive bons êxitos, no sentido de produção de hortas comunitária e nesse sentido quero também fazer experiência semelhante em duas paróquias em que estou atualmente assumindo a função de pároco: no Município de Campo Maior, (PI) a está localizado a 84 km. de Teresina/PI, possui uma população acima de 46.000 habitantes e no Município de N. Sra de Nazaré, (PI) que está localizado a 102 km. de Teresina e possui uma população de mais de 5.000 habitantes.
2 – Ao observar a população carente do município de N. Sra de Nazaré, percebi a necessidade de estar introduzindo no meio de sustento deles o cultivo de hortaliças que enquadram a agricultura familiar e também observei que na população carente dos moradores do bairro Cariri e do bairro Matadouro será facilmente possível incentivá-los na fabricação de material de higiene e limpeza para comercializarem e também na recolha de objetos usados para que seja feita a revenda na
população mais humilde a exemplo do que se faz com o movimento EMAUS em Teresina, fui quem fundou aquele Movimento, fortalecendo assim a proteção com do meio ambiente pela reciclagem. http://ceutagecomceut.blogspot.com/2008/11/movimento-emas-pequenos-passos-de-um.html
3 – Atualmente, pároco da Paróquia S. Pedro Nolasco situado no bairro Cariri – Campo Maior e de N. Sra de Nazaré - PI, voluntariamente, quero também começar a fazer reuniões e palestras sobre a ocupação das famílias e, através de dinâmicas e experimentos de hortas comunitária, fabricação de material de higiene e limpeza e revenda de objetos usados, como também, reciclagem do lixo, onde já comecei reunir-me e envolver às famílias na formação de um trabalho feito em mutirão que pra início são 50 famílias em Campo Maior e 90 familias em N. Sra de Nazaré.
4 – Novamente estou buscando parceria junto ao Ministério do Desenvolvimento Social – MDS e Companhia Nacional de Abastecimento – CONAB, através da Superintendência Regional do Piauí, com o fornecimento de alimentos para serem distribuídos às famílias envolvidas nas experiências destes trabalhos comunitários citados acima, com ajuda através de doação de alimentos por (três) vezes durante seis meses de experiência.

Do exposto, solicito aos nossos parceiros MDS e CONAB/PI que continuem sendo nossos parceiros no sentido de estar nos fornecendo, uma etapa de alimentos, no que possa atender a um total de 140 (cento e quarenta) famílias, 3 vezes a cada 2 meses a fim de que possamos receber o incentivo para essas famílias que estão em nossos projetos.

Antecipadamente agradeço apoio:
____________________________
Pe. João Paulo Carvalho e Silva
Coordenador das Pastorais Sociais da Diocese de Campo Maior - PI
PARÓQUIA SÃO PEDRO NOLASCO
DIOCESE DE CAMPO MAIOR
CNPJ: 06.986.459/0001-92
RUA AFONSO PENA,75 – BAIRRO CARIRÍ
64.680-000 CAMPO MAIOR - PIAUÍ

Ofício 01/09




Campo Maior, 07 de Julho de 2009



MD Diretor Geral do DETRAN-PI

Dr. Jesus Rodrigues


Senhor Diretor:



A Paróquia de São Pedro Nolasco atendendo os Bairros Cariri e Matadouro, em Campo Maior, pertencente à Diocese de Campo Maior, desenvolve trabalhos sociais de fórum de formação política e da cidadania, faz parceria com governo oferecendo espaço para funcionar o “PROJOVEM” e fazendo trabalho social para geração de renda por meio de trabalho de material recicláveis, vem através de seu representante legal solicitar deste órgão a doação de 05 (cinco) computadores, que os mesmos servirão para ampliarmos nossa ação social criando trabalho de inclusão digital por meio de um TELECENTRO para jovens carentes da região onde abrange a paróquia.

Na certeza de sermos atendidos, reiteramos protestos de estima e consideração. Para quaisquer esclarecimentos adicionais colocamo-nos à disposição através do telefone: 99488419 ou 86 94468491 ou e-mail: joaopaulocarvalhoesilva@hotmail.com





____________________________________
Pe. João Paulo Carvalho e Silva
PÁROCO

INDICE, INTRODUÇÃO E CONCLUSÃO DA TESE DE MESTRADO DO PE. JOÃO PAULO EM PORTUGAL







UNIVERSIDADE DE ÉVORA
DEPARTAMENTO DE SOCIOLOGIA

MESTRADO EM SOCIOLOGIA
ÁREA DE ESPECIALIZAÇÃO: RECURSOS HUMANOS E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL

TÍTULO: A Problemática dos Imigrantes Brasileiros que Trabalham em Portugal: O Caso Particular da Cidade de Fátima.

Dissertação de Mestrado em Sociologia: Recursos Humanos e Desenvolvimento Sustentável, como requisito para obter o grau de mestre, apresentado ao Departamento de Sociologia da universidade de Évora - Portugal -2006)


Elaborada Por:
João Paulo Carvalho e Silva
Nº. 90003091

Orientado por:
Prof. Doutor Marcos Olímpio Gomes dos Santos


Universidade de Évora
Outubro / 2006



ÍNDICE GERAL

RESUMO



ABSTRACT






INTRODUÇÃO






I - ABORDAGENS METODOLÓGICAS E CONCEPTUAIS
1.1. METODOLOGIA
1.2.ESTADO DAS ARTES / REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
1.2.1. Imigrações: Motivações e Discriminação



1.2.2. Imigração e Trabalho na Economia Portuguesa
1.2.3. Portugal: Imigração e Cidadania
3. ENQUADRAMENTO TEÓRICO – CONCEPTUAL



II - CARACTERIZAÇÃO DO BRASIL, DE PORTUGAL E FÁTIMA
2.1. CARACTERIZAÇÃO DO BRASIL
2.2. CARACTERIZAÇÃO DE PORTUGAL
2.2. CARACTERIZAÇÃO DE FÁTIMA



III - ANÁLISE DOS DADOS E APRESENTAÇÃO DOS RESULTADOS
Nota introdutória
3.1.Caracterização Sócio-demográfica dos Imigrantes
3.1.1.Sexo e Idade
3.1.2.Origem Geográfica
3.1.3. Nível de Instrução
3.1.4. Tempo de residência em Portugal
3.1.6.Acompanhamento Familiar
3.2. O Trabalho dos brasileiros em Fátima – Portugal
3.2.1. Número de Empregos que cada inquirido possui
3.2.2. Áreas de Trabalho
3.2.3. Relacionamento com o Patrão
3.2.4. Satisfação com a Profissão



3.2.5. A Função que exerce no trabalho



3.2.6. Mudança de função no trabalho
3.2.7. Mudança no Emprego.



3.2.8. A Exploração no Trabalho



3.2.9. Motivação para vir a Portugal
3.2.10. A Sindicalização
3.2.11.Forma de Contratação



3.2.12.Salário
3.2.13.Desempregados em 2005



3.3. Visão sócio - económica sobre si próprios dos imigrantes brasileiros em Portugal
3.3.1. Os maiores problemas em Portugal na perspectiva dos imigrantes



3.3.2. Os maiores problemas no Brasil .
3.3.3. Propostas para melhorar a vida dos brasileiros em Portugal
3.3.4. Conselhos para os Brasileiros que desejam vir para Portugal
CONCLUSÕES



BIBLIOGRAFIA.



ANEXOS
Anexo I - Missiva endereçada aos imigrantes brasileiros que foram contactados para responder o inquérito
Anexo II - Exemplar do instrumento de recolha da informação provocada junto de imigrantes brasileiros
Anexo III - Transcrição dos comentários obtidos durante a realização de 02 focus grups com imigrantes brasileiros (Focus group – A análise da imigração pelo imigrante).
Anexo IV - informação adicional que foi possível recolher junto de imigrantes portugueses em Fortaleza Brasil para dar resposta ao objectivo 06 (Visão Sócio-económica sobre si próprios dos Imigrantes Portugueses no Brasil)
Anexo V - informação adicional que foi possível recolher junto de imigrantes portugueses em Fortaleza Brasil para dar resposta ao objectivo 07 (Visão dos Brasileiros de Teresina sobre os Brasileiros em Portugal)



RESUMO
O objectivo desta tese tem como objectivo conhecer a situação dos imigrantes brasileiros que trabalham em Fátima – Portugal, a partir da informação obtida para o efeito. Metodologicamente, e a partir dos objectivos traçados, o autor procedeu à aplicação das seguintes técnicas para recolha: pesquisa documental, observação participante, inquérito por questionário junto ao público – alvo em Fátima, e de amostras de imigrantes portugueses em Fortaleza e de brasileiros em Teresina no Brasil.

A leitura dos dados recolhidos articula-se com as análises de John A. Jackson, sobre a imigração e Pierre Bourdieu, a respeito dos capitais sociais, observando-se que a investigação, “ (…) jamais está terminada, seja que circunstância for.” (HIERNAUX, 1997, P.180), daí a indicação que devem ser complementadas mais tarde com outras investigações. Conclui-se destacando dois aspectos que caracterizam os imigrantes trabalhadores brasileiros em Fátima – Portugal, consistindo o primeiro na ilusão à partida de uma ascensão económica na sociedade de acolhimento e o segundo em situações de discriminação económica, cultural e negação do direito de exercer cidadania, tornando-se afinal assim alguns imigrantes excluídos na sociedade de destino.
Palavras chave: Brasil; Fátima; Imigração; Portugal

INTRODUÇÃO

A presente Dissertação de investigação sociológica “A Problemática dos Imigrantes Brasileiros que Trabalham em Portugal: o Caso Particular da Cidade de Fátima”, desenvolvida no campo da imigração, parte da investigação sobre as realidades do mundo do trabalho imigrante brasileiro e encontra-se incluída numa tendência que tem marcado as sociedades dos países ricos, no caso em estudo, Portugal, que está inserido na União Europeia. Este tema da imigração, desde há muito tempo que desperta a atenção de estudiosos e pesquisadores, e tem sido objecto de dissertações de licenciatura, mestrado e doutoramento nas diversas áreas de investigação, nomeadamente Sociologia, História e Economia.

O ponto de partida do interesse do autor pela questão da imigração, tem origem nas reflexões sobre as conversas de, e, com imigrantes brasileiros, nas reuniões da Associação dos Imigrantes Brasileiros em Évora (da qual o autor é sócio fundador), sendo um assunto muitas vezes colocado em destaque das reuniões da referida Associação. Daí que, em virtude de experiências anteriores de participação em movimentos como a Pastoral Operária do Brasil, ligada à Obra Kolping Internacional e outras Organizações Não Governamentais, cujas actividades estão ligadas à Geração de Emprego e Renda, Comunidades Eclesiais de Base, Fundação Padre Ermínio, Movimento dos Sem Terras e Associações de Bairros, adviesse o interesse por essa problemática englobada no campo de investigação da Sociologia, pelo facto desta ciência poder contribuir significativamente para compreender a vida dos imigrantes brasileiros que trabalham em Fátima - Portugal, no que se refere por exemplo à sua situação de vida profissional, a questões culturais, a questões voltadas para a qualificação profissional, a questões de discriminação, e a questões de mobilidade social que respeitam aos referidos imigrantes.

Daí o empenho na realização de uma análise sociológica com a finalidade de proporcionar novos conhecimentos sobre este tema dos imigrantes brasileiros que trabalham em Portugal, especificamente na localidade de Fátima, através dos resultados de uma investigação sobre os motivos da presença desse imigrantes brasileiros em Portugal, a qual se poderá dever à divulgação de uma imagem de vida fácil para os trabalhadores brasileiros em Portugal, ao facto de se falar a mesma língua, à ilusão de haver muito trabalho e se ganhar muito dinheiro, a informação insuficiente recebida no Brasil, ou à atracção pela valorização da moeda europeia face à moeda brasileira.
Foram assim traçados como objectivos no âmbito da presente investigação os seguintes:
1 - Identificar algumas características gerais dos brasileiros que moram em Fátima, tais como: idade, escolaridade, região de onde veio e o tempo que vive em Portugal.
2 - Conhecer a realidade do trabalho dos brasileiros em Fátima, no que se refere à forma como foi recrutado no emprego, relacionamento entre o patrão e empregado, a satisfação com a profissão, a permanência no emprego e na função desempenhada, enfim em relação à exploração no trabalho, de que forma aconteceu esta exploração e se são sindicalizados.
3 - Conhecer os motivos que levaram os brasileiros a deixarem seu país e vir trabalhar em Fátima – Portugal. Identificar a visão dos portugueses que vivem no Brasil em relação aos imigrantes brasileiros em Portugal.
4 - Conhecer as expectativas dos brasileiros que vivem no Brasil em relação aos seus conterrâneos que vão para Portugal.
5 - Detectar situação profissional do trabalhador brasileiro que vive em Fátima: quanto ao número de emprego (s) que cada um tem; quanto ao salário que recebe; a área de trabalho; tempo que ficou desempregado e os maiores problemas que enfrentam em Portugal e que enfrentaram no Brasil. Constatar que propostas os brasileiros dariam para melhorar a situação dos brasileiros que no Brasil pretendem vir ara Portugal.
6 - Identificar a visão dos portugueses que vivem no Brasil em relação aos imigrantes brasileiros em Portugal.
7 - Conhecer a opinião dos brasileiros que vivem no Brasil em relação aos seus conterrâneos que estão em Portugal.
Refira-se que estes dois últimos objectivos (Identificar a visão dos portugueses que vivem no Brasil em relação aos imigrantes brasileiros em Portugal e Conhecer as expectativas dos brasileiros que vivem no Brasil em relação aos seus conterrâneos que vão para Portugal) não foram satisfatoriamente conseguidos, pelo que os resultados obtidos junto dos imigrantes portugueses foram remetidos para Anexos da Dissertação, a título de mero complemento da pesquisa, e como informação adicional sobre o tema, pois esta abordagem pode ainda a ver ser recuperada em futuras investigações sobre a problemática abordada.
Os objectivos acima descritos foram traçados tendo em atenção que tais enunciados devem constituir um mecanismo para nortear o sucesso de uma investigação, e ser formulados de forma a serem verificáveis, para que possam ser considerados de carácter científico, representando a posição do pesquisador na procura de evidências observáveis que sustentem e comprovem os resultados da investigação.
A apresentação do trabalho realizado ao longo da presente pesquisa é efectuada através dos pontos seguintes:
Abordagens metodológicas e conceptuais onde se descreve inicialmente as etapas do processo para realizar o estudo, com enfoque nas técnicas de investigação utilizadas, após o que é apresentado o Estado das Artes, onde se resume o panorama das investigações realizadas sobre a imigração de forma a situar a presente pesquisa.
Consta depois o enquadramento teórico conceptual, ponto no qual são definidos os conceitos fundamentais a que se recorreu para redacção do texto.
A caracterização do Brasil, de Portugal e de Fátima, é o ponto que se segue. Sobre o Brasil é assim realizada uma descrição do espaço geográfico e panorama demográfico do país, bem como dos níveis educacionais e profissionais, que influenciam profundamente a procura de oportunidades que os imigrantes brasileiros esperam encontrar dentro do Mercado de Trabalho em Portugal, e possibilitam verificar quais são as regiões do Brasil, de onde saem os brasileiros imigrantes para trabalhar em Portugal. Na caracterização de Portugal, é importante o destaque para duas situações com que o país convive no que se prende com a dinâmica migratória: a primeira respeita à situação económica e política de Portugal nos anos 60, que deu origem à emigração de portugueses para o Brasil, França, Holanda, Alemanha, Luxemburgo, Espanha, Itália, a que se sucedeu nos anos 70 a segunda, na qual se verifica o retorno de nacionais das colónias e mais tarde, a partir dos anos 90, a chegada de imigrantes provenientes dos países do antigo bloco socialista do Leste Europeu.
A caracterização de Fátima reporta-se ao início das aparições da Virgem de Fátima em 1917, sendo esta uma pequena freguesia de solo pobre para agricultura e pecuária, caracterizando-se naquela altura pela criação de ovelhas e outros gado para subsistência familiar e que com as aparições, foi gradativamente evoluindo em todos os aspectos: cultural, económico, religioso, etc., desenvolvendo suas potencialidades, principalmente na questão do turismo religioso, com peregrinações vindas de todas as nações das Américas, Ásia, África, Oceânia e Europa, tornando-se o terceiro maior centro turístico de Portugal, atrás de Algarve e Lisboa, abrindo a oportunidade a muitos postos-de-trabalho e atraindo recentemente a mão-de-obra imigrante brasileira, destacando-se no âmbito económico diversas áreas de prestação de serviços, comércio, hotelaria, restaurantes e construção civil.

Seguidamente consta a análise e apresentação dos resultados com enfoque na caracterização dos imigrantes, estrutura etária, sexo, origem geográfica no Brasil, instrução, tempo de residência, acompanhamento familiar, aspectos relacionados ao trabalho dos brasileiros em Fátima, número de emprego, área de trabalho, relacionamento com o patrão, satisfação com a profissão, no trabalho, função no trabalho, mudança no emprego, exploração no trabalho, motivação para vir a Portugal, sindicalização, forma de contratação, salário, desemprego em 2005, visão sócio-Económica dos imigrantes em brasileiros em Portugal, os maiores problemas no Brasil, os maiores problemas em Portugal, acções para melhorar a vida dos brasileiros em Portugal e conselhos para quem deseja vir a Portugal, um focus grupo para comparar os resultados da investigação com a posição dos imigrantes
O último ponto inclui as conclusões a que se chegou com o trabalho da pesquisa realizada e as recomendações consideradas pertinentes em função desses resultados.
Nos Anexos constam: a missiva endereçada aos imigrantes brasileiros que foram contactados para responder ao inquérito (Anexo I), um exemplar deste mesmo instrumento de recolha da informação provocada (Anexo II), a transcrição dos comentários obtidos durante a realização de 02 focus grups com imigrantes brasileiros (AnexoIII), a informação adicional que foi possível recolher junto de imigrantes portugueses no Brasil para dar resposta ao objectivo 06 (Anexo IV), e a informação adicional que foi possível recolher junto de brasileiros em Teresina para dar resposta ao objectivo 07 (Anexo V).
CONCLUSÕES

Uma abordagem mais genérica ao concluir a análise dos dados obtidos, permite afirmar que quase todos os objectivos planeados foram alcançados (exceptuam-se os objectivos 6 e 7). Primeiro porque foi possível realizar a investigação, abordando as três dimensões do inquérito aplicado aos imigrantes brasileiros: características gerais, aspectos relacionados com o trabalho dos imigrantes brasileiros em Fátima e visão sócio-económica sobre si próprios dos brasileiros que trabalham em Portugal.

Segundo, porque, as abordagens dos autores referidos no Estado das Artes, constituíram uma base sólida para a compreensão do fenómeno da imigração das várias nacionalidades e, principalmente, da imigração brasileira; e terceiro, porque a análise dos dados, apresentados através de quadros gráficos, espelha a concretização dos objectivos planeados, em articulação com as abordagens teóricas explanadas na pesquisa bibliográfica.

Assim, dados relevantes foram esclarecedores da realidade dos imigrantes brasileiros em Fátima, a qual inclui temas como: a discriminação, a exploração no trabalho, a pouca formação intelectual, a falta de qualificação profissional, várias formas de exploração no trabalho, as funções que desempenham, os sectores da economia que mais empregam as motivações para imigrar, e por fim, os conselhos para quem desejar vir para este país.

Mais detalhadamente pode dizer-se que com base na abordagem da Problemática dos Imigrantes Brasileiros que Trabalham em Portugal: O Caso Particular da Cidade de Fátima, e através da recolha dos materiais teóricos (pesquisa bibliográfica) e empíricos (pesquisa, análise dados, complementada com focus group), foi possível chegar aos resultados que seguidamente se sumariza.

Partindo dos 07 (sete) objectivos planeados, foi possível identificar alguns traços que caracterizam situações de vida e opiniões dos brasileiros que moram em Fátima (e complementarmente de portugueses que moram em Fortaleza e Teresina no Brasil, cidades capitais de Estados que são origem dos imigrantes trabalhadores brasileiros que residem em Fátima e de brasileiros que residem também em locais de onde são oriundos os mesmos imigrantes).

No contexto da pesquisa realizada em Fátima, foram identificadas características como: sexo e estrutura etária dos imigrantes brasileiros, constatando que 64% dos imigrantes trabalhadores brasileiros residentes nesta cidade são do sexo masculino e 36% são do sexo feminino, percebendo-se, que a população imigrante feminina está crescendo com relação aos imigrantes do sexo masculino, não só a nível de imigração brasileira que foi objecto de estudo desta tese, como também de outras migrações de origem em África.

A estrutura etária dos imigrantes brasileiros, apresenta três faixas de idades muito significativas dentro da problemática da imigração: uma idade mínima de 14 (catorze) anos, onde se encontram geralmente imigrantes do sexo feminino. São jovens que acompanham familiares ou amigos e conforme informações extra questionário, quando os empregos terminam e não há trabalho, a prostituição constitui uma saída lucrativa. Uma segunda faixa de idade, que se situa em torno de uma média de cerca de 31 (trinta e um) anos, que abrange de modo geral os imigrantes do sexo masculino e feminino como mão-de-obra economicamente activa no mercado de trabalho de Fátima. A terceira faixa da estrutura etária é constituída pelos imigrantes que estão na média máxima dos 48 (quarenta e oito) anos. É uma faixa de idade que praticamente ainda é absorvida na economia portuguesa, mas que no Brasil já encontra sérias dificuldades para ser admitida nas empresas, pois seu rendimento já não produz economicamente o bastante para gerar lucros.

Também foi possível constatar que as cidades grandes brasileiras são as origens da maioria dos imigrantes brasileiros e, em segundo, as cidades médias. Foi comprovado que o facto de ser cidade grande não proporciona grandes oportunidades económicas para quem decidiu imigrar, tentando oportunidades de educação, segurança e melhor condição social. A saída foi buscar outras sociedades, no caso aqui abordado, a sociedade portuguesa. Essas cidades grandes, médias e pequenas, estão localizadas em Estados dos mais ricos que compõem a República Federativa do Brasil, como por exemplo São Paulo, Goiás, Paraná, Santa Catarina, Bahia, bem como no mais pobre, Piauí.

Nessas cidades, verifica-se que os imigrantes brasileiros, viviam praticamente em condições equivalentes de pobreza, de desemprego, sem oportunidades de educação e saúde para a família, o que se encontra relacionado com a escolaridade do número de imigrantes apenas com o primeiro grau, e do número muito baixo, dos imigrantes com formação superior. Essa baixa formação reflecte-se nas ocupações dos postos de trabalho em Fátima, nas oportunidades económicas que vieram procurar na sociedade portuguesa, e na cidade de Fátima em particular, e está conforme ao que consta no Estado das Artes, onde consta que (…) “o fenómeno da imigração se deve a factores socioeconómicos, espaço temporal, imigração interna e externa”(…)(NAZARETH, 1996:186).

Foi possível comprovar que a permanência dos imigrantes brasileiros em Fátima, se concentra em maior número entre 01 (um) e 05 (cinco) anos, número indicado por 50% (cinquenta por cento) dos inquiridos. A permanência de 05 (cinco) anos em Portugal, tem por base uma outra motivação referida informalmente, e que se prende com o tempo para começar a obter do governo português o visto de permanência e a partir daí, uma estada permanente na sociedade portuguesa. Muitos conseguem então uma situação mais satisfatória de estabilidade, e consequentemente mantêm-se em Portugal, o que se comprova através do número dos imigrantes que estão no país entre 05 (cinco) e 10 (dez) anos.

Muitos destes imigrantes (e suas famílias) já se encontram integradas na sociedade: filhos aqui a estudar, emprego para si e para o cônjuge, vistos de residência e encontram-se adaptados à cultura local. Esta situação é referida pelos 47% (quarenta e sete) por cento que afirmaram estar com a família em Portugal. A permanência inicial que possibilita a permanência prolongada e, muitas vezes, definitiva, dá-se porque, os imigrantes são acolhidos à sua chegada, por outros brasileiros já residentes há mais tempo, facilitando assim aos recém chegados encontrar abrigo, trabalho e adaptação à nova realidade na sociedade portuguesa.

A realidade dos imigrantes brasileiros que trabalham em Fátima, foi também constatada, a partir da forma de contratação, possibilitada não raro pela iniciativa dos amigos na apresentação de outro brasileiro imigrante a um patrão Português, meio mais prático de prestar auxílio a quem está chegando em uma sociedade desconhecida, antes imaginada quase como uma terra prometida. Fantasia que desaparece logo ao primeiro contacto, pois a cultura é diferente, o tratamento não é satisfatório e a frustração se instala, e aí, o apoio de outros imigrantes brasileiros é fundamental.

A maioria, pela falta de oportunidades ou por não ter qualificação, fica praticamente num só emprego. Mesmo quando muda de emprego, muda-se para outro apenas, e isto se comprova pelos números obtidos na investigação que apontaram para 77 (setenta e sete) inquiridos que afirmaram estar em um único emprego. No entanto isto não é o mais importante para o imigrante, o essencial é estar trabalhando, pois esta é a motivação para estar em Portugal, onde a região escolhida foi Fátima.

Como são questões relacionadas com a procura de trabalho que os trazem aqui, e olhando para suas qualificações que quase não possuem, muito menos a formação intelectual para áreas mais capacitadas, resta-lhes os sectores da economia, onde pouca qualificação basta, muitas vezes, até regredindo de função ocupada em razão das oportunidades de conseguir um posto-de-trabalho. Assim, por vezes a opção que lhes resta é um emprego não qualificado no comércio e serviços, o que se comprova pela investigação, que aponta para 45 (quarenta e cinco) inquiridos afirmando estar trabalhando nesse sector. É uma realidade que se caracteriza pela própria vocação económica da cidade de Fátima, que é o turismo religioso, e daí, envolver o sector hoteleiro e a construção civil, não tendo a agricultura muita expressão na economia do território devido à composição rochosa e calcária do solo impróprio para actividades agrícolas. Daí que somente 03 (três) respondentes afirmaram estar empregados no sector de agricultura, enquanto que no segundo maior sector que mais emprega em Fátima, o sector de construção civil, se encontram colocados 42 (quarenta e dois) inquiridos, número ultrapassado pelo comércio e serviços onde se encontram a laborar 45 respondentes.

É uma realidade comprovada pelos indicadores económicos, que Fátima é já o terceiro maior pólo de atracção turística de Portugal, atrás de Algarve e Lisboa. Esta constatação dos sectores de emprego da mão de obra dos imigrantes brasileiros que trabalham em Portugal não só é comprovada pelos imigrantes brasileiros, como também de outras nacionalidades, o que de um modo geral se encontra em consonância com o referido por autores citados no Estado das Artes, como por exemplo “eles estão na construção civil, pesados e restaurantes”…(CUNHA, et. al. 2004:105)

O relacionamento entre patrões e imigrantes brasileiros que trabalham em Fátima é uma questão crucial da imigração e da sua situação nos postos-de-trabalho. A este respeito 47% (quarenta e sete por cento) dos inquiridos informaram ter um relacionamento satisfatório com o patrão, 29% (vinte e nove) por cento, muito satisfatório, 14% (catorze) por cento pouco satisfatório e só 10% (dez) por cento um relacionamento nada satisfatório. Assim para alguns imigrantes brasileiros, o relacionamento com o patrão, constitui por vezes um choque, não imaginando que a forma de tratamento pudesse ser tão desagradável como a experimentam. Nos focus gorups, com as limitações inerentes à recolha efectuada, constatou-se que muitos dos participantes afirmaram ser normal verificarem-se conflitos entre patrões e empregados.

Quando se trata de satisfação com a profissão, 45% (quarenta e cinco por cento) afirmam estarem satisfeitos, embora o conceito de satisfação para os imigrantes, se prenda com a pontualidade do patrão em pagar o salário dentro do combinado, e no que diz respeito ao valor que é efectivamente pago. Mais especificamente os que estão muito satisfeitos são 21% (vinte e um por cento), os pouco satisfeitos são 20% (vinte) por cento e 14% (catorze por cento) declaram-se nada satisfeitos. No entanto, esta satisfação ocorre porque para a maioria dos imigrantes, as suas profissões de origem no Brasil, são as mesmas ocupadas em Portugal, como pedreiros, serventes, montador, marteleiros, empregados de mesa, balcão, cozinheiros, motoristas, domésticas e outros. Como se constatou, muitos ao chegarem em Portugal, por falta de formação, acabam por trabalhar em outras funções inferiores à sua qualificação, no entanto, tem que se observar que é a oportunidade de trabalho que lhe resta. Por isso é que muitos, 61% (sessenta e um) por cento dos inquiridos responderam não haver mudança de função, e consequentemente a maioria, 24 (vinte e quatro) não mudaram de emprego e só 39% (trinta e nove) por cento responderam que mudaram de função e consequentemente, 19 (dezanove) mudaram de emprego.

Essas mudanças de função e de emprego, estão associadas à exploração sentida pelos imigrantes brasileiros por parte dos patrões portugueses e têm subjacentes diversas formas de exploração no trabalho. Dos 90 (noventa) inquiridos, 47% (quarenta e sete) por cento afirmaram terem sido explorados no trabalho, de diversas formas, sendo as principais: trabalhar mais do que o previsto, atraso no pagamento dos salários, chamadas de atenção sem motivos, chamadas de atenção na frente de pessoas estranhas, pagamento inferior ao combinado, mandar fazer o que não é obrigação, não assinar contrato de trabalho e demissão sem pagamento de direitos laborais. Constata-se que a mão-de-obra imigrante brasileira é explorada, o que também sucede com mão-de-obra imigrante de outras nacionalidades, facto referido no Estado das Artes onde se salienta que: (…) “trabalham mais horas, mais dias, aos sábados (…) estão até a hora que for preciso”… (CARVALHO, 2004. p,40)

Constata-se que, não obstante essa realidade (que por vezes desconhecem), os brasileiros inquiridos durante esta pesquisa encontravam-se motivados para emigrar para Portugal, por razões económicas, alegando que ganhavam pouco, pelo que o desejo de uma vida melhor lhes faz encarar esses desafios. Assim 34 (trinta e quatro) afirmaram terem-se sentido motivados para vir para Portugal porque ganhavam pouco no Brasil. Muitas vezes, foi também a motivação por parte de amigos, tendo 27 (vinte e sete) afirmado que foram conversas com esses amigos a causa para vir a Portugal. Dívidas pessoais e o desemprego estiveram em proporções menores, como motivação para vir a Portugal. Portanto, a motivação económica está à frente, até mesmo quando a motivação são os amigos, que incentivam a vinda, afirmando estar bem em Portugal. Porém alguns desses trabalhadores uma vez aqui, decepcionam-se, pois os ganhos são na proporção dos gastos, muitos continuam ilegais, não lhes sendo permitido obter direitos laborais e protecção da acção social. Como consequência estes não se encontram sindicalizados, e isto se comprova pelo elevado número de imigrantes brasileiros não sindicalizados que chega a 83% (oitenta e três) por cento do total de inquiridos, em contraste com os 17% (dezassete por cento) que se encontram sindicalizados. As alegações são: falta de informações, situação ilegal, não ter interesse ou os sindicatos não fazem nada por eles, até porque, a forma mais presente de contratação, em vista de uma estada ilegal em Portugal é através da indicação de amigos a um patrão português.

Foi constatado que a média salarial desses imigrantes brasileiros em Fátima, apresenta um maior índice entre €. 500,00 e 700,00 euros, numa escala entre €. 300,00 e €.1.100,00 euros. É um salário correspondente às profissões dos sectores de construção civil, comércio e serviços, oferecidos nos postos-de-trabalho. As profissões com menos qualificação, apontam para menores salários na ordem dos €. 300,00 euros.

Face ao medo do desemprego e pouca qualificação, qualquer oportunidade de trabalho é bem recebida e nesses casos a maioria passa o tempo todo trabalhando, e quando acontece ficar sem emprego, é em razão de conclusão de uma obra e o início de outra ou outro tipo de trabalho. Diante do quadro apresentado pela investigação, os imigrantes brasileiros que saíram do Brasil diante de problemas como o desemprego, a violência, a pouca oportunidade de qualificação profissional, e; assistência na saúde. Em Portugal, essas questões colocam-se por ordem diferente ou surgem outras como constituindo os maiores problemas enfrentados, sendo geralmente a discriminação o primeiro desses problemas, com indicação por parte de 53 (cinquenta e três) dos inquiridos que apontam a discriminação profissional, cultural e étnica como problema de maior relevância, sofrido na sociedade portuguesa. Como segundo maior problema enfrentado é indicada a falta de oportunidade de lazer, a que se referiram 33 (trinta e três) indicações por parte dos imigrantes brasileiros em Fátima. As suas actividades de lazer resumem-se a ir aos bares e cafés encontrar-se com outros brasileiros ou outros amigos de nacionalidades diferentes, amigos de trabalho, ali, conversando sobre sua vida profissional, afectiva e familiar, e tomar bebidas, após o que regressam ao local onde habitam, geralmente apartamentos alugado onde chegam a morar até 08 (oito) pessoas, dividindo as despesas. Em terceiro lugar vem o problema da qualificação profissional, indicado por 20 (vinte) inquiridos. Essa falta de qualificação não lhes permite ocupar postos de trabalho melhores, facto comprovado pelos dados sobre os sectores em que os imigrantes brasileiros mais se inserem no mercado de trabalho de Fátima. Um quarto problema enfrentado é a dificuldade de auxílio à saúde, com 09 (nove) indicações dos inquiridos.

Aos potenciais imigrantes brasileiros, os conselhos dos que cá se encontram é para não virem, e se vierem, que seja como legalizados, com toda a documentação em ordem, que se informem primeiro sobre a realidade existente, e que estejam preparados para as situações de discriminação que de forma aparente não existem.

Conclui-se claramente diante da problemática dos imigrantes brasileiro que trabalham em Portugal: o caso particular da cidade de Fátima, que as sociedades humanas e dentre elas está a sociedade brasileira, representada pelos seus imigrantes nas outras sociedades e mais especificamente na sociedade portuguesa, não são estáticas, estando sujeitas a vários fenómenos sociais, económicos e culturais que conduzem por vezes a migrações em busca de melhores condições de vida e perspectivas favoráveis de segurança social e económica e, nesse contexto se inserem os imigrantes brasileiros que trabalham em Fátima.

Todas estas movimentações dos imigrantes brasileiros em Fátima, têm um carácter social e económico, indicando uma busca de mudança de status, que se manifesta através de alterações na posição social futura, quando retornarem ao Brasil. Aqui, os bem sucedidos já se sentem próximos de outra cultura, apesar de algumas situações adversas de discriminação económica, cultural, étnica, não desejadas, já se sentem também em um outro status, adquirido sobretudo pela sua sujeição a um trabalho inferior ao praticado no seu país de origem, tendo contribuído entretanto significativamente para a economia portuguesa no âmbito deste fenómeno de movimentos migratórios do Brasil para Portugal, que se afigura irreversível e portanto motivo de aperfeiçoamento de políticas, de novas intervenções, de novas abordagens e outras iniciativas.

É dentro do espírito destas reflexões que se aqui se deixa as breves linhas que se seguem, onde consta um resumo das opiniões comuns expressas pelos membros das 03 amostras, que serão seguidas das sugestões e recomendações suscitadas pela leitura dos resultados obtidos na investigação.

Três constatações se afigura mencionar, uma vez que são praticamente comuns às pesquisas realizadas em Fátima e no Brasil. Primeira, preocupações em muito idênticas quando foi abordado o maior problema enfrentado no Brasil (violência e discriminação) e em Portugal (discriminação e desemprego). Segunda, unanimidade no que se refere às motivações para imigrar, uma vez que foi mencionado o desejo de mudar de situação económica. Terceira, grande sintonia também sobre os conselhos
a quem deseja imigrar para Portugal ou para o Brasil: Ir com documentação legal; Não ir; informar-se antes.

Assim, na sequência da análise dos resultados mais expressivos que constam ao longo do texto, apresenta-se as seguintes sugestões e recomendações que aqui ficam para a devida apreciação: criação de uma associação de imigrantes brasileiros em Fátima, com a finalidade de integração e garantia dos direitos de cidadania da comunidade imigrante brasileira em Fátima; divulgação dos resultados desta Tese, com a finalidade de chamar a atenção para a situação dos imigrantes brasileiros em Portugal, a fim de que seja tomada as medidas que venham a evitar e ou, corrigir os problemas de discriminação, falta de oportunidades e legalização dos imigrantes brasileiros que trabalham em Fátima, bem como em Portugal, e, por fim, a promoção de debates sobre a temática da imigração, visando contribuir com o governo de Portugal, na elaboração e efectivação de políticas sociais e económicas cada vez mais responsáveis, como se tem buscado, para as comunidades lusófonas em Portugal.